A Casa Grande de Romarigães, um legado arquitectónico e literário de Aquilino Ribeiro


Abstract

A Casa Grande de Romarigães terá servido de cenário literário a uma das mais simbólicas obras do escritor Aquilino Ribeiro: A casa grande de Romarigães. Sua estrutura arquitectónica foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1986, atribuição que ainda não derivou em nenhum estudo rigoroso sobre a sua evolução morfológica. Com base nas constantes descrições na obra de Aquilino Ribeiro, e do seu confronto com a documentação histórica entretanto encontrada (escrita e gráfica, em grande parte inédita), este trabalho de investigação propõe o desenho da evolução morfológica da casa ao longo dos tempos, bem como a enunciação da influência deste solar para a organização social, cultural e económica da aldeia de Romarigães.


La Casa Grande de Romarigães sirvió de escenario literario a una de las más simbólicas obras del escritor Aquilino Ribeiro: A casa grande de Romarigães. Su estructura arquitectónica se clasificó como inmueble de interés público en 1986, atribución que todavía no ha derivado en ningún estudio riguroso acerca de su evolución morfológica. Con base en las constantes descripciones en la obra de Aquilino Ribeiro y en su enfrentamiento con la documentación histórica encontrada (escrita y gráfica, en gran parte inédita), el trabajo de investigación se propuso diseñar la evolución morfológica de la casa en el tiempo y enunciar la influencia de este solar para la organización social, cultural y económica del pueblo de Romarigães.


A Casa Grande de Romarigães has been the literary scene of one of the most remarkable works of the writer Aquilino Ribeiro: A Casa Grande Romarigães. In 1986, the architectural structure was classified as cultural heritage by the Portuguese state, but there has not been an initiative to study its morphological evolution and architectural relevance. Based on descriptions that can be found in the work of Aquilino Ribeiro, and supported with historical documentation research (both written and graphic, mostly unpublished), this work suggests the design of the morphological evolution of the house over the years, together with the construction of its influence on social, cultural and economic organization of the village of Romarigães.


A investigação que animou a elaboração do presente artigo centra-se na Quinta do Amparo, também conhecida como Casa Grande de Romarigães, advindo as suas denominações da capela devota a Nossa Senhora do Amparo e do nome da aldeia local, respectivamente. Este trabalho propõe uma reinterpretação desta estrutura a partir da obra literária homónima de Aquilino Ribeiro e procura explorar a relação da dimensão real e ficcional entre duas disciplinas, a arquitectura e a literatura, que funcionam como âmbitos de trabalho neste cenário geográfico:

“Acima desses absidíolos e retábulo, a fachada recrescia ainda em es-peciosidade, alto plateresco com dois escudetes que haviam de servir como lousas epigráficas, e por baixo da cornija, ao centro, uma rosá-cea de bela moldura, a cujo oval se perfilavam como passavantes dois meninos de torso requebrado e franzino. E encimado pela sineira rec-tangular, de cruz ao alto, e por quatro pirâmides em cada ângulo, de esbeltíssimo desenho, o todo exuberava uma fecúndia tropical, a que não andava estranha, dir-se-ia, a inspiração luxuriosa, tipo indiático, dos templos consagrados a deusas que tinham infinitos braços para abraçar voluptuosamente o mundo e infinitas tetas para lhe darem a mamar o leite da paz e conformidade. Tudo dum barroquismo cheio de alor e pulcritude.“1

A arquitetura da Quinta do Amparo e o seu contexto literário representam um inigualável valor cultural para a região, emprestando ao território um legado, mercê dos registos literários e do que subsiste edificado, capaz de arquivar todos os aspectos de uma paisagem assim resgatada ao tempo — pois o norte de Portugal foi sempre ciclicamente causticado pela aventura dos fluxos de emigração. As sucessivas intervenções são controversas, facilmente invocam uma banalização dos espaços envolventes e uma desvalorização dos valores regionais.

Figura 1.

Localização geográfica. Romarigães, Paredes de Coura, Alto Minho, Portugal

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Figura 2.

Ortofotomapa da Casa Grande de Romarigães, 2015.

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Figura 3.

Fachada da capela em honra a Nossa Senhora do Amparo, Casa Grande de Ro-marigães.

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Alváro Domingues,2 no seu livro A rua da estrada, faz uma relevante reflexão entre a coesão de dois conceitos tão distintos: a perda da cidade e do campo. Em Romarigães, a situação apresenta-se a uma pequena escala, mas cada vez mais as novas construções vivem em função da via principal que atravessa o povoamento, isto é, da funcionalidade da estrada nacional 201. O comércio implantou-se sobre a rua e as casas passam a servir duas funções, o piso térreo direccionado para o comércio e o piso superior com o destino de espaço de família. Esta conclusão de Álvaro Domingues encaixa-se perfeitamente no território em estudo, deparamo-nos com uma profunda alteração da função comercial que a aldeia de Romarigães tinha, provocando assim um desequilíbrio no seu conjunto. É essencial o estudo de evolução desta estrutura uma vez que esta se centrou inicialmente na Quinta do Amparo e, hoje, encontra-se muito mais dispersa ao longo das diversas vias de comunicação que atravessam o seu território. Neste sentido, poder-se-á até esboçar já a constatação do que será apelidado como uma arquitectura de amparo, característica marcada de quem perpetua um retorno, revendo-se em uma afirmação de estrangeirado, meio nostálgico e que recupera memórias. No pólo oposto, um dos segredos da arquitectura parece residir na qualidade material que permite a persistência das ruínas, que, assim, habilitam a que algumas paisagens persistam e sejam susceptíveis de serem ressuscitadas.

Toda a investigação procurou essencialmente indagar sobre a utilidade destas descrições para a enunciação de uma hipotética leitura arquitectónica dos objectos, consubstanciadas pela posterior comprovação através da documentação histórica. E, assim, conseguir conhecer a evolução mais fidedigna cultural e arquitectónica de um lugar. O palco de acção deste trabalho é a Casa Grande de Romarigães.

O objecto de estudo está enquadrado numa região muito particular, o Alto Minho, conhecida por ser uma zona bastante diversificada do ponto de vista programático, uma vez que as suas construções vão desde o singular espigueiro ao solar senhorial, da nora à casa urbana, perseverando na sua paisagem arquitectónica inúmeras marcas, construções, ruínas: parcelas edificadas que patenteiam as sucessivas passagens de populações e culturas. Trata-se de castros, pontes romanas, arquitectura monástica que se estende posteriormente por outras regiões de Portugal.3 Nesta narrativa, torna-se importante a valorização do território a partir da literatura — herança cultural de um país, mais precisamente de uma região.

Paredes de Coura resultou da junção de dois nomes que centralizavam as mais importantes áreas integradas no concelho: Coura (freguesia de São Martinho de Coura) e Paredes (actual sede do município). O concelho de Paredes de Coura, do qual Romarigães é uma das 21 freguesias constituintes,4 ocupa geograficamente uma posição central no distrito de Viana do Castelo, confinada a norte com o concelho de Monção, a noroeste com o de Valença, a sul com o de Ponte de Lima, a leste com o de Arcos de Valdevez e a oeste com o de Vila Nova de Cerveira.

O topónimo da aldeia de Romarigães advém de Romariganes, patronímico de Romarigus ou Romariz. Foi previamente denominada de freguesia de Santiago de Romarigães, devido à sua implantação junto ao Caminho de Santiago de Compostela. Teve origem na antiga aldeia de Labruja, caracterizada pelos seus montes, que em tempos foi abandonada ou arruinada, em detrimento do vale. A sua fundação remonta ao período de ocupação romana. Trata-se de uma comunidade rural. A sua proximidade ao litoral fez com que os seus movimentos migratórios assumissem proporções significativas — desde o início da expansão ultramarina, mas mais particularmente após a descoberta do ouro no Brasil, em finais do século XVII. A emigração cedo se apresentou como uma solução para as classes em situação económica precária, e ainda hoje apresenta uma abertura às vias de comunicação marítima e fluvial, promovendo uma forte mobilidade geográfica. Estando inserida numa região de povoamento disperso, a sua população concentrou-se essencialmente nos lugares que circundavam a igreja principal da aldeia, hoje em dia implantada dentro dos limites da Quinta do Amparo.

Foi na segunda metade do século XIX que se iniciou a construção das redes de estradas e caminhos-de-ferro que, sensivelmente, coincidem com a actual configuração de percursos. Nestes traçados, reside um verdadeiro mapa, essencial para a compreensão do que viabiliza e explica a circulação de pessoas, mercadorias e informação. Esta comunicação resultou na intensificação da estrutura agrícola do país e, consequentemente, permitiu reestruturar a economia e a sociedade portuguesa. No interior de Portugal, esta alteração foi particularmente notória, permitindo o desenvolvimento e a exportação de muitos produtos. Mas estas ligações entre povoações têm origens anteriores, sendo assinalável, na região do Alto Minho, a do Caminho de Santiago de Compostela.

No livro Por caminho de Santiago. Itinerários portugueses para Compostela,5 de Carlos Gil e João Rodrigues, é descrito o percurso que passa por esta aldeia. A origem da capela em honra a Nossa Senhora do Amparo, com uma manifestação inicial reduzida a um pequeno nicho,6 advirá precisamente do Caminho de Santiago de Compostela português. Uma das mais belas peças românico-góticas do Alto Minho afirma-se agora igualmente integrante do Trilho de Aquilino.7

A historiografia portuguesa tem desconsiderado largamente as contaminações entre a arquitectura e a literatura. José Saramago, no entanto, admitiu a possibilidade de ter um pensamento arquitectónico,8 enquanto Álvaro Siza, por sua vez, citou Fernando Pessoa, a propósito da sua convicção de não existir em arquitectura uma linguagem pré-estabelecida: “O que sou, o que faço, o que não sou capaz de fazer, é como um terraço, um terraço sobre outra coisa, essa coisa é que é linda“.9 Por outro lado, apesar de existirem inúmeras descrições literárias de espaços arquitectónicos — da crónica à poesia —, o valor instrumental destas descrições para a investigação arquitectónica não tem sido muito explorado.

As obras de Aquilino Ribeiro tenderam sempre a valorizar o regional e o rural na literatura portuguesa. Os seus textos reconstroem modos de vida do século XX, permitindo um conhecimento e uma visão muito pessoal da sociedade deste tempo. Em particular, Aquilino Ribeiro escreveu várias obras sobre a região onde nasceu e viveu. A vida rural deste território constitui, de resto, o cenário principal da sua ficção.

Aquilino aborda o mundo rural como um espaço físico íntimo para o escritor, onde a relação com a natureza e os animais é salientada através das personagens que desenham o grupo social de cada lugar. A sua obra reflecte um interesse pelo popular. O povo é o seu elenco principal, sendo entendido como o representante mais genuíno da especificidade nacional. Temos como exemplo o beirão que é caracterizado com “feitio positivo, constância e tenacidade“,10 e o serrano, que é “bárbaro, bronco“.11 As personagens são inspiradas na região onde vive e nas pessoas com quem conviveu, sobretudo porque esta é a forma mais verídica de representar uma identidade digna de audiências universais.

O romance A Casa Grande de Romarigães constitui uma obra ímpar da literatura portuguesa. Trata-se de um volume marcante de um território que em si mesmo representa e identifica uma região do interior de Portugal, com as aludidas mas específicas características rurais, apontadas e compreendidas por um largo e complicado decurso temporal histórico. Uma trama ficcional que obedece à geografia física e humana do lugar. A obra em estudo evoca e revê no texto a memória dos feitos que ali ocorreram. A importância histórica e social da Casa Grande de Romarigães para a interpretação de todo o conjunto geográfico da aldeia de Romarigães é preservada na obra do escritor Aquilino Ribeiro, através da inigualável capacidade de construção de cada capítulo com um conjunto de memórias e enredos fictícios, onde a casa é assumida como elemento físico e ferramenta principal para o entendimento daquele lugar. A personagem principal, a Casa Grande de Romarigães, facilita por esta via a escolha enquanto objecto de estudo deste trabalho.

O conjunto habitacional afirmou-se como um lugar de grande devoção cristã por força da sua capela em honra a Nossa Senhora do Amparo. Na obra de Aquilino Ribeiro, surge uma pequena descrição do nicho em honra a Nossa Senhora do Amparo.

Figura 4.

A Casa Grande de Romarigães, Aquilino Ribeiro.

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Este escritor português (Sernancelhe, Carregal, 13 de etembro de 1885 — Lisboa, 27 de maio de 1963) da primeira metade do século XX conviveu com grandes nomes da literatura portu-guesa como Fernando Pessoa (1888) e Almada Negreiros (1893), entre muitos outros. Inici-ou a sua obra, em 1907, com o folhetim A Filha do Jardineiro. Aquilino é um dos maiores nomes das nossas letras, criando na língua portuguesa uma plasticidade impressionante com-binando o rústico com o erudito. Foi um observador atento ao género humano e criou uma galeria de personagens que retratavam Portugal no século XX.

“Ao alto, sobre o caminho levantava-se com humilde e ternura o nicho de N.a S.a do Amparo. Uma vez lá, sentou-se numa pedra à espera dos seus. Dentro da edícula, a Virgem, com o menino aconchegado no re-gaço, fitava-o como a toda a gente que se Ihe dirigia triste ou necessi-tosa. Embora fosse a mãe solícita dos aflitos e oprimidos, pronta a le-var-lhes socorro, havia uma grade de ferro entre ela e os mal-intencionados. Mas na sua rudeza aldeã, capinha azul, chambre escarlate, divisava as pessoas com um olhar claro que, penetrando as almas, parecia inspirar-lhes obras certas e fortaleza.“

Depois da Segunda Guerra Mundial, a que Aquilino chamou “crepúsculo da lenda e das tradiçôes“,12 pelas novas estradas se fez a emigração para os países da actual União Europeia, com uma amplitude que levou ao esvaziamento do universo rural, em particular das zonas mais pobres. Hoje são terras de uma população envelhecida e que todos os verões revivem com a chegada dos emigrantes. E, com eles, vêm os estilos de vida negociados e os hábitos herdados.

É clara a importância do romance A Casa Grande de Romarigães para futuras interpretações do lugar e da preservação de dados históricos e sociológicos que, por vezes, arriscam esfumar-se no decurso do tempo. Ao longo da estadia de Aquilino Ribeiro na casa — enquanto esta recuperava um novo traçado resgatado ao antigo com pequenas intervenções arquitectónicas —, o autor percorreu cada capítulo histórico do lugar, tentando sempre conhecê-lo o melhor possível. Analisou o contexto geográfico e os herdeiros que viveram nela, através dos dados que compilou para que fosse possível construir o enredo do solar mais singular desta região. São levantados pequenos pormenores arquitectónicos da casa e da quinta que nos ajudam a imaginar espacialmente como poderia ter sido naquele tempo.

Encontramos dois tempos históricos na obra de Aquilino: o tempo dos cronistas, caracterizado pela certeza (visivel na caligrafia meticulosa do reverendo Mendrugo), e o tempo do autor (e do leitor), caracterizado pela incerteza ou instabilidade, um tempo que tem como ícones representativos Einstein e os aviões a jacto. A matriz de A Casa Grande de Romarigães procura um conceito de verdade, na relação entre a história e a ficção, uma caricatura da história de Portugal que se estende à crónica dos morgados de Romarigães, que marca e representa um dos exemplos únicos da literatura portuguesa.

Este romance, que muitos consideram a sua obra-prima, mostrou-se precursor nessa tentativa de corrigir ou reescrever a história que em grande medida foi o projecto assumido por José Saramago num tempo mais próximo ao nosso. Convém esclarecer que por “corrigir“ a história entende Saramago não propriamente “corrigir os factos da História“,13 tarefa impossível a um romancista, mas “introduzir nela pequenos cartuchos que façam explodir o que atã entäo parecia indiscutível: por outras palavras, substituir o que foi pelo que poderia ter sido.“ Por isso, Saramago conclui que “[…] a História como se escreve — ou […] tal como a fez o historiador, é primeiro livro, não mais que o primeiro livro.“Ao primeiro livro se irão juntar, ao longo do tempo, novas visões ou interpretações, novas versões que vêm tornar mais densa a versão original. A história é assim um constante processo interpretativo, um permanente exercício de reescrita, nenhuma versão sendo definitiva ou mais verdadeira do que a outra.

Aquilino sabia-o, porventura, melhor do que ninguém. E, como ninguém, entregou-se à tarefa de acrescentar novos livros ao livro da história e neles descobrir as histórias mais silenciadas. A similitude da intervençcão de arquitectura em espaços reinventados, espaços a que mais do que os meros interesses materials ou utilitários, mas também os culturais, impõem um amparo técnico, reescrevem estas convergências mais do que meramente literárias, mas a aflorar já uma redacção de cariz teórico que permita fazer coexistir o rigor com a criatividade. Como fazer? Pois, através de um registo prévio, tendencialmente rigoroso, a que os autores se entregam — seja o respeito pelo existente, seja pelo que de onírico não deve nunca abandonar o traço da arquitectura. Uma persistente criatividade que é essencial fundamentar.

Saramago acrescenta que “se a leitura histórica, feita por via do romance, chegar a ser uma leitura crítica, não do historiador, mas da História, essa nova operação introduzirá, digamos, uma instabilidade, uma vibração, precisamente causadas pela perturbação do que poderia ter sido, quiçá tão útil a um entendimento do nosso presente como a demonstração efectiva, provada e comprovada do que realmente aconteceu“.

As relações entre discurso histórico e discurso ficcional foram discutidas por contributo de Paul Ricoeur,14 Paul Veyne15 e Hayden White.16 No seu estudo fundamental sobre a imaginação histórica, Hayden White afirmará mesmo que o texto histórico resulta de um acto essencialmente “poético“, entendendo por tal a base histórica linguística preconceptual, a partir da qual o historiador selecciona e organiza as datas do campo histórico de forma a construir a sua história, na sua perspectiva. “[…] the difference between history and fiction resides in the fact the historian finds his stories, where as the fiction writer invents his“.17

Aquilino mostra-se preocupado em revelar as fontes documentais e históricas utilizadas — nomeadamente os três manuscritos a partir dos quais constrói a narrativa: a) o livro que serve de assentamento de todos os momentos notáveis que sucederam na Casa Grande de Romarigães pelo Padre Sebastião Mendrugo (1680); b) Vida de D. Luís António de Antas Meneses, Sargento-Mor de Milícias e Procurador às cortes de 1828; c) Cartas de dois amantes verdadeiros.

Após a leitura da obra, encontramos várias referências temporais, arquitectónicas, geográficas, sociológicas, o que nos permite comprovar a sua veracidade. Em certos momentos, Aquilino Ribeiro foge à íntegra da história daquele lugar. É interessante todo o método de análise do lugar por parte do escritor, porque não foge muito à metodologia de trabalho de um arquitecto. A importância de compreender o contexto social, cultural, económico e geográfico de um lugar nestas duas diferentes áreas — literatura e arquitectura — relacionam e comprovam a proximidade entre duas formas de pensar e trabalhar.

Figura 5.

Casa Grande de Romarigães, corpo em “U“, 1950.

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A Quinta do Amparo foi adquirida ao Visconde de Vila Nova de Cerveira pelo Licenciado Rev. Gonçalo da Cunha. Foi sendo sucessivamente transmitida a quatro gerações de Cunhas de Antas e, em 1809, foi saqueada pelas tropas napoleónicas, sendo que a capela foi parcialmente destruída. Mais tarde, passou a propriedade de Dona Jerónima Dantas Machado (uma de dezoito dos filhos de Bernardino Machado) à data já casada com Aquilino Ribeiro. Foi este quem se apaixonou de tal forma pela Quinta do Amparo que, a esforço, conseguiu reunir os fundos necessários para dar tornas aos restantes herdeiros.

Nesta data, já a casa se encontrava no seu corpo nascente arruinada, em parte devido ao fortíssimo ciclone que assolou todo o país em 1941. Aquilino Ribeiro promove então a reabilitação do conjunto na configuração que hoje lhe conhecemos, com o imprescindível apoio de mestre José, Mestre Zé o chama em trato da proximidade pelo respeito à entrega, músculo e cuidados, que trouxe de Soutosa.

A Casa Grande, com uma implantação em forma de “U“, viu suprimida parte do seu corpo nascente, transformando-se em dois corpos distintos — um com a capela e corpo anexo adossados à estrada e outro, no extremo oposto, com a cozinha original, caracterizada pelo seu pavimento lajeado de granito, pé direito duplo e ampla chaminé com forno tradicional típico das casas minhotas.

O elemento arquitectónico gerador da quinta — e mais antigo de todo o conjunto — foi o tal nicho18 evocativo de Nossa Senhora do Amparo, substituído, em 1700, pela capela que encontramos dentro do limite físico da quinta. Este nicho é característico de uma região muito religiosa. De facto, ao longo de caminhos e percursos de ligação entre povoações, encontramos pontualmente pequenos nichos em honra de santos. A capela foi construída em cantaria autoportante de granito e, hoje em dia, apresenta-se rebocada e pintada de branco nas fachadas laterais exceptuando as molduras e cornijas. A fachada principal, o elemento mais rico de todo o conjunto, encontra-se com a pedra à vista e sem qualquer tratamento de preservação. Apesar da sua importância, o primeiro corpo a ser construído foi o da casa principal. A casa que se encontra anexada à capela, com planta quadrangular, terá chegado a ser cedida para escola da aldeia. Actualmente é utilizada como espaço de arrumação com serventia eventual para a comida dos animais e ferramentas de trabalho, aguardando o amparo de uma recuperação.

A relação entre a obra literária, o passado, presente e futuro arquitectónico deste lugar é evidente e tem acompanhado, ao longo do tempo, a história da Casa Grande de Romarigães. O único filho de Aquilino Ribeiro e Jerónima Dantas Machado, Aquilino Ribeiro Machado, foi o último proprietário da casa e amparou aquele lugar com o objectivo de preservar a história contada pelo seu pai. Alguns hectares da propriedade são hoje explorados por uma empresa privada de plantação arbórea. A sua escolha poderá ter sido influenciada pelas últimas palavras do seu pai na obra A Casa Grande de Romarigães:

“[…] palpita de modo tão intenso que o sentimento da velhice no ho-mem se torna de uma tristeza funérea e confrangedora. É pena que se não possa regular a vida como um relógio, andando com os ponteiros para diante e para trás segundo a nossa conveniência. Como eu faria da Quinta do Amparo um jardim maravilhoso, a minha estância de contemptor do Mundo, e de Nossa Senhora, esta doce imagem de faces bochechudinhas, minha amiga do coração?! A Primavera, tantas vezes rebelde ao calendário, rejuvenesce tudo menos o homem. A lei da ci-clidade física assim o mandam. Para o ano, por esta altura, voltarão as aves a cantar. Que chova, que faça um sol radioso, com o mundo vegetal pletórico de seiva ou mais aganado, à triste planta humana é que nada a afasta da sua carreira para a morte. Será ela a obra-prima da Criação ou a pior de todas?“19

Conclusäo

As obras de alguns escritores reportam-se a determinados territórios sentimentais que servem de base à criação simbólica de cenários literários. Tal sucede principalmente no campo ficcional, onde são despertados sentimentos de identidade e pertença juntos dos cenários descritos como territórios reais. A literatura e todo o repertório português pode desempenhar um papel determinante na definição e na descoberta de novos roteiros turísticos a partir de memórias. As obras de Aquilino Ribeiro são estruturadas a partir de um cenário, de uma paisagem literária que tem origem num contexto geográfico, puramente definido pelas suas coordenadas.

Os territórios literários são a consolidação de uma estratégia de sustentabilidade territorial, conseguimos entender isso a partir de várias intervenções contemporâneas, tal como as leituras habilitantes que se afirmaram ao longo dos anos.

Através da análise de algumas obras literárias, descobrimos o ajustamento ficcional entre os lugares narrados e aquilo que na realidade existe. Na literatura portuguesa, um dos casos mais significativos reside na obra de Eça de Queiroz, que imaginou Tormes a partir de um lugar que conheceu: a inspiração foi a Quinta da Vila Nova, propriedade herdada pela esposa. Conforme refere Maria Inês Pinho no seu artigo “Literatura e Turismo em Eça — forma de arte que é património, a paisagem do Douro“, “continua semeada de recordações de modo difícil, para sempre impressa no granito escuro, pesado, toscamente trabalhado na primeira arte românica“,20 circunstância que não impediu o escritor de recriar uma imagem que sucessivas gerações de leitores iriam reter.

O território literário na obra de Aquilino Ribeiro concentra-se na região que ficou conhecida como Terras do Demo. Uma paisagem literária que tomou relevo após a publicação do segundo romance de Aquilino, em 1919. Trata-se de uma geografia sentimental visto que é assumida em destaque a própria vivência juvenil do escritor “a aldeia serrana, como aquela em que me fui nado e baptizado e me criei são e escorreito, é assim mesmo: barulhenta, valerosa, suja, sensual, avara, honrada, com todos os sentimentos e instintos que constituem o empedrado da comuna antiga“.21 Mas os territórios aquilinianos não se confinam às Terras do Demo; à semelhança de Eça de Queiroz, descreveu e imaginou vários territórios geográficos, desde os cenários urbanos de Lisboa (Mónica, O Arcanjo Negro, Maria Benigna e ainda O Escritor Confessa-se) até àquelas obras de ficção em que a natureza desempenha o papel de mais uma personagem, onde a riqueza descritiva e ficcional se conjugam para produzir um riquíssimo e ímpar território literário.

O concelho de Paredes de Coura é especialmente rico em recursos naturais e culturais, contudo apresenta-se, neste momento, num confronto de assimetrias entre o espaço rural e o espaço urbano. Eis uma das questões fulcrais levantadas por Álvaro Domingues, ou seja, a descaracterização do Portugal rural através da perda dos traços caracterizadores de uma paisagem, “pelo despovoamento, pelo abandono, ou, noutro registo, pela profunda metamorfose que vai lavrando pelo pais dos (ex)agricultores, pela perda das suas práticas ancestrais, modos de vida, territórios e paisagens. Ruínas, em muito caso“.22 A perda de importância da paisagem rural significa senão o declínio, ao menos uma modificação radical de uma sociedade, onde a agricultura e o espaço têm caminhos dissociados, e que por força merece reflexão e reacções diferenciadas e abertas, tanto quanto acolhedoras, para que mais do que meros destinos ou curiosidades de passagem, se transformem em faróis ou melhor ainda, em pontos de atracção alternativos das peregrinações que persistem sempre.

Sendo o cenário literário do romance de Aquilino Ribeiro que lhe permite uma fixação temporal comparativa, será ainda o romance capaz de viabilizar igualmente a valorização desta paisagem, para que todas as descrições registadas pelo escritor sejam de alguma forma possíveis de vivenciar no lugar. Esta valorização para uma abordagem de dinamização turística para Romarigães é claramente oportuna visto que existe um vasto território com um valor cultural capaz de preservar uma memória guardada no imaginário crónico do livro.

A Casa Grande de Romarigães por si só é um pólo de assinalável atractividade no Alto Minho, dando azo a inúmeras visitas, individuais ou organizadas, para se conhecer o património local e a atmosfera envolvente que inspiraram a crónica romanceada. O interesse pelo sítio onde a Casa Grande se situa reflecte, em boa medida, o fascínio que advém do romance histórico que Aquilino Ribeiro ali situou, e a curiosidade que a memória da respetiva leitura terá suscitado nas pessoas que para lá se dirigem com o propósito de confrontar a realidade local com a representação imaginária que haviam construído. A Quinta do Amparo insere-se numa paisagem marcadamente rústica e dispõe de horizontes abertos para um pequeno vale, marcado por uma breve ribeira para onde confluem quase todos os terrenos da propriedade. Goza igualmente de uma vista privilegiada sobre um monte, a curta distância, em cujo topo se localiza o Castro do Couto de Ouro e usufrui ainda de uma perspectiva mais longínqua e desafogada sobre a Serra de Arga, que “parece postada lá adiante a barrar-nos o caminho com as suas escarpas de bronze“.23 Tamanha envolvência duma natureza florescente que ergueu o seu “biombo ameno“ de “pinheiros, carvalhos, sobreiros e eucaliptos a crescer à desmedida sobre o chão de tojo molar, que ali medra em proporções tropicais“24 permite encarar a paisagem como um valioso activo turístico suscetível, também com autonomia paralela, para fundamentar uma aposta de investimento.

Para uma futura postura arquitectónica neste lugar, levanta-se uma questão principal e essencial: o valor arquitectónico versus o valor cultural. José Hermano Saraiva numa visita à casa põe em causa os caixilhos de alumínio colocados pelos proprietários. Numa tentativa de preservar o corpo arquitectónico existente, é esta a questão que colocamos quando o estereótipo de beleza se torna o ponto primordial para uma análise positiva ou negativa.

Como Peter Zumthor refere no seu livro Pensar a Arquitectura,25 quando um arquitecto se depara com um lugar onde a construção já existe e essa mesma está firmemente ancorada ao território, ter a capacidade de projectar um edifício que, no decorrer do tempo, consiga estabelecer ligações de forma natural com toda a envolvente, é desafiante e são esses os lugares que nos apaixonam pela nossa profissão.

Manter ou retomar um passado que na Casa Grande de Romarigães já não existe, de acordo com a sua própria história e o trabalho aqui desenvolvido, acredito que não será a melhor postura para conseguirmos uma união entre o valor arquitectónico e cultural, tão presente neste sítio. A casa teve várias fases em diferentes situações históricas. Para a qualidade desta intervenção, é crucial que se consiga no novo uma tensão positiva e significativa com o existente. Para nos fazer ver e estimular num cenário que já nos é familiar. Como Zumthor refere: “Lança-se uma pedra na água. A areia agita-se e volta a assentar. O distúrbio foi necessário. A pedra encontrou o seu lugar. Mas o lago já não é o mesmo. Penso que os edifícios que, a pouco e pouco, são aceites pelo seu espaço envolvente devem possuir a capacidade de atrair, de diversas formas, a emoção e o raciocínio. O nosso sentimento e compreensão estão, no entanto, enraizados no passado. É por isso que o significado que criamos com o edifício deve respeitar a memória.“26 Claro, que respeitar a memória não quer literalmente dar a ideia de que é necessário recuperar tal e qual o passado do edifício, o mais importante e desafiante é conseguir preservar um passado e construir novas memórias pertinentes e inseridas num contexto actual.

O consenso da necessidade de salvaguarda de um património em perigo tem vindo a aumentar face à responsabilidade de transmissão a gerações futuras de certos valores culturais e sociais considerados insubstituíveis. Em Portugal, a salvaguarda destas arquitecturas literárias não tem sido explorada ao máximo. É relevante, pois faz parte da identidade do nosso país. É interessante como Juan José Vázquez Avellaneda27 reflecte sobre este assunto onde o rosto moderno do século XX é um conjunto de edifícios caídos e associados a grandes relatos literários. Uma materialidade incorporal, um jogo de personagens que se manifestam numa natureza geográfica. Claramente, uma nova forma de trabalho baseada na busca de composições múltiplas. A relação entre a arquitectura e a literatura é evidenciada na obra de Fernando Pessoa e de tantos outros escritores, onde o passado é-nos ensinado através de uma realidade exterior e interior. Quando cruzamos estas duas áreas, estamos a pensar com todas as características de formação de um espaço. Temos o tempo gravado nas palavras e na construção que sobrevive, um tempo onde são abordados diversos temas que podem e consagram um lugar. O nosso trabalho como arquitectos converte-se e inclina-se para o real, para o mundo e para o tempo; e só assim consegue ter uma representação futura e actual. Esta estrutura de concepção de arquitectura baseia-se em dois aspectos, nos métodos de intervenção ou na forma de construir um enredo textual, uma estrutura escrita. O arquitecto procura um enredo, uma história a partir da qual possa criar o seu capítulo, sempre enraizado aos episódios anteriores e com uma linha para perpetuar o futuro. Não estamos a falar de literatura? Ou só arquitectura? Ou, talvez mesmo das duas! Um projecto quer literário, quer arquitectónico passa pela existência de um grupo ou de uma personagem, onde estes deambulam numa diversidade de documentos com ânimo de compilar parte de um livro ou melhor páginas de muitos livros. Aqui, encontra-se a afinidade nesta forma de pensar, uma colecção que se produz onde o tempo é o seu definidor. Textos, documentos que se amontoam num baú biográfico, hoje em dia digital, e que mostra como é fascinante a relação viva destas duas artes.

Concluindo, a obra de Aquilino Ribeiro inaugura uma forma de fazer parar a tendência cada vez mais genérica da arquitectura globalizada, válida para qualquer situação, e dar primazia a práticas como o mapear, habitar o exterior, ver as modificações, os objectos e as casas. Estes e outros procedimentos são um ar fresco dentro das escolas de arquitectura, visto que o conhecimento arquitectónico transmite-se também a partir das palavras. Sem a literatura, nunca seria possível transmitir todo o legado arquitectónico.

Bibliografia

1. 

Avellaneda, Juan José Vázquez. “Em Lisboa: escritura y ciudades. The City of Fernando Pessoa“. Tese de doutoramento, Universidad de Sevilla, Escuela Técnica Superior de Arquitectura, Sevilla, 2006.

2. 

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29. 

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Notes

[1] Ribeiro, A Casa Grande de Romarigães, 89-90.

[2] Álvaro Domingues nasceu em Melgaço, em 1959. É geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Publica sobre temáticas relacionadas com a geografia urbana e a paisagem.

[3] Neste último, há que sublinhar a investigação de Ana Maria Tavares Martins, designadamente para o que aqui concerne in Os mosteiros cistercienses na Região das Beiras: um percurso entre a arquitectura e a his-tória; e “Nos 50 anos de 'A Casa Grande de Romarigães' — A Quinta de Nossa Senhora do Amparo“.

[4] Santa Maria de Paredes, O Salvador de Resende, São João Baptista do Bico, São Pedro de Castanheira, Santa Maria da Cunha, Santiago de Infesta, São Paio de Água Longa, Santiago de Romarigães, Martinho de Coura, São Pedro de Rubiães, Santa Maria de Cossourado, Santa Marinha de Linhares, São Mamede de Fer-reira, São Pedro de Formariz, São Paio de Mozelos, Santa Marinha de Padornelo, Santa Maria de Insalde, São Miguel de Porreiras, São Pedro Fins de Parada, São Pedro de Vascões e São Miguel de Cristelo

[5] “Voltamos ao início do percurso, à saída de Ponte Lima, e prosseguimos de novo pela EN 201 para mais adiante encontrarmos o famoso solar e a povoação de Romarigães. Aquilino Ribeiro situou ali a história do seu romance A Casa Grande de Romarigães. O solar pertenceu ao Dr. Bernardino Machado, sogro do escri-tor“. Gil e Rodrigues, Por caminhos de Santiago.

[6] “Teve a sua origem num templo mais pequeno sujeito a uma remodelação no século XVI que implicou a sua ampliação e alargamento do espaço entre a nave e a capela-mor precedida de arco triunfal em asa de cesto“.

[7] O Trilho de Aquilino consiste num percurso pedonal que, partindo da Casa Grande, prossegue por catorze quilómetros em direcção a Agualonga, Trulha, inflectindo até Montuzelo e baixando pelo Monte da Coroa, direcciona-se a Gonçalães e rodopia até à Tapada da Giesta, onde se verificou uma bifurcação inicial, para re-tomar Morgado e devolver-se o caminhante ao Amparo da Casa Grande; envolve as freguesias de Romarigães, Agualonga, Infesta, Rubiães e Cunha; com pormenor, cf. www.favaes.com/pt/trilhos/10-Aquilino.

[8] Saramago, Cadernos de Lanzarote.

[9] Siza, “Entretien avec Álvaro Siza“, 33.

[10] Ribeiro, Arcas Encoiradas, 113-115.

[11] Ribeiro, A Casa Grande de Romarigäes, 21.

[12] Ribeiro, Arcas encoiradas, 135.

[13] Em 1990, José Saramago publica no Jornal de Letras (informação quinzenal que aborda as diversas áreas da cultura — literatura, teatro, cinema e música) um artigo intitulado “História e ficção“. Levanta neste texto a importância da problemática inerente à relação entre história e literatura.

[14] Nasceu em Valence, perto de Paris, a 27 de fevereiro de 1913 e faleceu em Châtenay-Malabry a 20 de maio de 2005. Um dos grandes filósofos e pensadores franceses depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1983, nos três volumes de Tempo e Narrativa, o autor realça as semelhanças entre a temporalidade da historiografia e o discurso literário.

[15] Nasceu em Aix-en-Provence a 13 de junho de 1930. Arqueólogo e historiador francês.

[16] Nasceu em 1928, historiador estadunidense e conhecido pelas suas críticas epistemológicas à historiogra-fia.

[17] Hayden White, Metahistory: The Historical Imagination, 6. “[…] a diferença entre a história e a ficção reside no facto de o historiador procurar histórias, que na ficção é o escritor que inventa“.

[18] “Ao alto, sobre o caminho levantava-se com humilde e ternura o nicho de N.a S.a do Amparo. Uma vez lá, sentou-se numa pedra à espera dos seus. Dentro da edícula, a Virgem, com o menino aconchegado no regaço, fitava-o como a toda a gente que se lhe dirigia triste ou necessitosa. Embora fosse a mãe solícita dos aflitos e oprimidos, pronta a levar-lhes socorro, havia uma grade de ferro entre ela e os mal-intencionados. Mas na sua rudeza aldeã, capinha azul, chambre escarlate, divisava as pessoas com um olhar claro que, penetrando as al-mas, parecia inspirar-lhes obras certas e fortaleza“. Ribeiro, A Casa Grande de Romarigäes, 21.

[19] Ribeiro, A Casa Grande de Romarigäes, 7.

[20] Maria Inês Pinho, “Literatura e Turismo em Eça““.

[21] Ribeiro, Terras do demo.

[22] Domingues, Vida no campo.

[23] Ribeiro, Arcas encoiradas, 235.

[24] Ibid.

[25] Peter Zumthor, Pensar a arquitectura.

[26] Ibid., 17.

[27] Avellaneda, “En Lisboa. Escritura y Ciudades“.