El Cuestionario sobre historia del arte responde a la necesidad de crear y fortalecer un diálogo entre la comunidad académica nacional e internacional, en aras de conocer y desarrollar los conocimientos y argumentos existentes alrededor de las narrativas de la historia del arte. El Cuestionario es realizado a una serie de historiadores del arte, artistas, curadores, investigadores, teóricos, profesores y profesionales afines al campo y para cada número de H-ART se selecciona y publica una respuesta.
El equipo editorial de H-ART tuvo la oportunidad de conversar con ella y proponerle algunas de las preguntas de nuestro cuestionario.
¿Cómo es la relación entre las narrativas categóricas occidentales de la Historia del Arte y las narrativas específicas locales cuando se piensa en prácticas artísticas?
¿Cree que es acertado hablar de una historia del arte global? Si es así, ¿cuál es el papel de las narrativas específicas y locales de la Historia del Arte?
¿Cuál es el papel de las narrativas de la Historia del Arte dentro del campo interdisciplinar y en expansión de las humanidades digitales?
¿De qué manera las direcciones específicas de las narrativas de la Historia del Arte están conformando un eco o influencia en la formación de pensadores?
A questão dessa discussão da história global é bastante complexa. Parece que sempre há a necessidade de perguntar se existe uma arte global, se existe uma história da arte global. Eu acho que [a questão] tem muitas questões, portanto vou falar desde o ponto de vista de uma pesquisadora que atua no Brasil trabalhando com arte que não é europeia, e trabalhando também num campo que, no Brasil, ainda está em construção. São muitos elementos aí presentes para a gente discutir essa questão.
O primeiro ponto que a gente precisa analisar é quem é, ainda, que detêm o poder nessas narrativas. Ainda que, obviamente, a gente vem acompanhando uma expansão bastante importante [no campo]. Eu penso que, desde o ponto de vista das bolsas [de pesquisa], das bolsas de viagem, da organização dos grandes congressos internacionais, onde elas atuam, onde elas acontecem, [a gente pode perguntar] qual é o lugar que há de fato para essas outras narrativas? De que ponto há uma apertura para essas novas narrativas e possibilidades? A questão da arte africana no Brasil, por exemplo, é muito interessante porque, além de ser um campo em construção, é preciso sempre se atentar para a especificidade das relações que constituíram a formação, por exemplo, dessas coleções.
Vou dar um exemplo muito básico: enquanto nos Estados Unidos ou na Europa, mais que tudo na Europa, a constituição dessas coleções estive muito vinculada à questão desse “outro”, por uma questão histórica do colonialismo, de vários países europeus no continente africano, no Brasil essas coleções foram formadas a partir de uma discussão de identidades. E aí relacionadas com uma população muito específica no continente africano (estou falando dos povos urubás, por exemplo). Então, essas coleções, que provavelmente seriam desprezadas nos principais museus europeus ou americanos, têm um papel fundamental no entendimento das relações raciais no Brasil, por exemplo. Não se olhava, não se priorizava a qualidade técnica e formal das peças, mais sim como é que essas peças justificavam e estreitavam um laço entre essas populações dos dois lados do Oceano Atlântico. Aí a questão é: como lidar com essas coleções cuja história da arte (mais divulgada) despreza? O que fazemos com essas coleções?
Esse é um exemplo de como nos podemos construir metodologias e narrativas que, ao mesmo tempo, incorporem todas as nossas questões (e aí uma questão, por exemplo, brasileira) e, mesmo, [pesquisem] como é que essas questões e essas narrativas se integram no campo mais amplo da história da arte. Eu acho que esse é um grande desafio. Agora, a questão é também pensar como é a aceitação, na prática, dessas novas narrativas e o entendimento dessas novas necessidades que se dão localmente dessas relações estabelecidas localmente.
Um outro exemplo é sobre as coleções de arte afro-brasileira: como é essa mudança de uma arte que começa no começo do século XX, com médicos e psiquiatras lidando com essas peças para justificar a inferioridade do negro —aqui estou falado de peças de uso ritual, nas cerimónias religiosas principalmente ligadas ao candomblé, uma religião afro-brasileira—. Como é que essas transformações vão se dando ao longo do século XX e como é que é [como é que acontece], ao entendimento hoje dessas produções afro-brasileiras de artistas contemporâneos que estão trazendo novas abordagens, lidando de outras formas? como é que esses historiadores da arte estão acompanhado essas transformações e essas mutações, ou essas novas narrativas que vão sendo construídas?
No Brasil quase não há, não se atenta para isso. É um campo ainda muito recente, e não só. Não só recente, mas ainda muito difícil de ser entendido como uma possibilidade de contribuição para questões mais gerais do que a gente poder chamar uma história da arte.
