Cenários Iniciais
Neste momento de mudanças vertiginosas no mundo contemporâneo com o avanço cada vez maior da tecnologia e as fortes mudanças no campo das relações humanas, obrigamo-nos a buscar novos caminhos para compreender certos problemas e buscar soluções para a melhoria do processo educativo. Nesse contexto, entendemos que a formação continuada é uma importante ferramenta para a gestão de situações difíceis no âmbito escolar.
Pautadas pela ideia de Delors (1998, p. 34) de que a educação é um “processo que dura a vida inteira” e sustentadas, ainda, nos quatro pilares propostos por esse autor para a educação, “aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos”, propomos uma reflexão para a melhoria do exercício da coordenação pedagógica.
O objetivo geral deste trabalho é discutir o papel do coordenador pedagógico. Nesse sentido, para possibilitar a investigação, fez-se necessário desmembrar esse objetivo geral em dois específicos: identificar os principais desafios no exercício da função de coordenador pedagógico e refletir sobre a importância do coordenador como formador no processo de formação continuada.
A metodologia utilizada neste trabalho é de natureza qualitativa, em que se utiliza da pesquisa bibliográfica (Preti, 2000). A escolha desse tipo de metodologia deu-se por entender que a pesquisa bibliográfica pode auxiliar no conhecimento e na análise das principais contribuições teóricas já existentes sobre as práticas do coordenador pedagógico, objeto de estudo deste trabalho, para aprimorar a função de coordenação pedagógica.
A Escola Estadual Souza Bandeira, área de estudo deste trabalho, está localizada na zona urbana, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, região do Coxipó, na cidade de Cuiabá (Mato Grosso, Brasil). É uma escola bastante conceituada devido ao seu comprometimento com a educação e à sua busca por uma educação de qualidade para seus alunos, assim como o compromisso de formar o indivíduo com dignidade, identidade, respeito e perspectivas de um futuro melhor. Essa formação é trabalhada constantemente e um dos recursos utilizados nesta é o trabalho com o método preventivo de Dom Bosco, da Rede Salesiana de Ensino. Além do comprometimento da unidade escolar com o pedagógico, também é bem vista pela organização administrativa e, consequentemente, pela sua estrutura física e fácil acesso pela localização geográfica.
A Escola Estadual Souza Bandeira atende no período matutino e vespertino; conta com uma equipe de 60 funcionários, entre professores, técnicos e apoio administrativo. A escola trabalha com o ensino fundamental, isto é, atende do ao terceiro ciclo de formação humana. O número de alunos matriculados no primeiro ciclo é de 239 alunos, 380 alunos no segundo ciclo e 405 alunos no terceiro ciclo, o que totaliza 1 024 alunos (dados referentes a 2015). A evasão é inexistente na Escola Souza Bandeira, e as taxas de transferências são mínimas. É bastante comum o aluno ser matriculado nos anos iniciais (primeiro ciclo) e estudar até o 9° ano (terceiro ciclo). Como a escola trabalha com o ciclo de formação humana, não há retenção de alunos.
O último resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB (2011) da escola é 6,0 (seis), resultado acima da meta projetada (5,7 para o ano de 2011 e 5,9 para o ano de 2013).
Quanto às condições de trabalho do docente e dos técnicos administrativos, são consideradas muito boas. Os ambientes são espaçosos, arejados e climatizados. O corpo docente utiliza como infraestrutura básica o quadro de giz, além de contar com materiais pedagógicos necessários para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Os servidores do setor administrativo contam com equipamentos, vestimentas e ambientes propícios para o bom desenvolvimento do seu trabalho.
As relações da escola com a comunidade escolar é muito boa e participativa. Apesar de não atingir cem por cento, a grande maioria dos pais compareceu à escola e acompanhou a vida escolar dos filhos.
Nesse contexto, este trabalho está organizado em duas seções: a primeira aborda o trabalho do coordenador pedagógico, que trata da rotina de trabalho desse profissional em seu cotidiano, bem como muitos olhares que são criados sobre sua identidade e função, além de trazer à luz temas relacionados à desorientação e quase perda de sua identidade e as dificuldades na realização de seu trabalho; a segunda trata-se da relação entre formação continuada e coordenador pedagógico com o intuito de refletir constantemente sobre o fazer pedagógico dos professores, no qual o coordenador pedagógico desempenha importante papel: o de formador do corpo docente.
O trabalho do coordenador pedagógico
A coordenação pedagógica é entendida, na visão de Paulo Gomes Lima e Sandra Mendes dos Santos (2007), como uma de assessoria permanente e continuada ao trabalho do docente. Portanto, entende-se que o coordenador pedagógico é aquele que acompanha o professor desde o planejamento de suas aulas e metodologias propostas até a avaliação; com isso, busca intervir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.
São várias as atribuições dadas ao coordenador pedagógico apresentadas na Lei Complementar Estadual 206/2004 de 29 de dezembro de 2004:
1. investigar o processo de construção de conhecimento e desenvolvimento do educando;
2. criar estratégias de atendimento educacional complementar e integrada às atividades desenvolvidas na turma;
3. proporcionar diferentes vivências visando o resgate da autoestima, a integração no ambiente escolar e a construção dos conhecimentos onde os alunos apresentam dificuldades;
4. participar das reuniões pedagógicas planejando, junto com os demais professores, as intervenções necessárias a cada grupo de alunos, bem como as reuniões com pais e conselho de classe;
5. coordenar o planejamento e a execução das ações pedagógicas da Unidade Escolar;
6. articular a elaboração participativa do Projeto Pedagógico da Escola;
7. coordenar, acompanhar e avaliar o projeto pedagógico na Unidade Escolar;
8. acompanhar o processo de implantação das diretrizes da Secretaria de Estado de Educação relativas à avaliação da aprendizagem e ao currículo, orientado e intervindo junto aos professores e alunos quando solicitado e/ou necessário;
9. coletar, analisar e divulgar os resultados de desempenho dos alunos, visando a correção e intervenção no Planejamento Pedagógico;
10. desenvolver e coordenar sessões de estudos nos horários de hora-atividade, viabilizando a atualização pedagógica em serviço;
11. coordenar e acompanhar as atividades nos horários de hora-atividade na unidade escolar;
12. analisar/avaliar junto aos professores as causas da evasão e repetência propondo ações para superação;
13. propor e planejar ações de atualização e aperfeiçoamento de professores e técnicos, visando à melhoria de desempenho profissional;
14. divulgar e analisar, junto à Comunidade Escolar, documentos e diretrizes emanadas pela Secretaria de Estado de Educação e pelo Conselho Estadual de Educação, buscando implementá-los na unidade escolar, atendendo às peculiaridades regionais;
15. coordenar a utilização plena dos recursos da TV Escola pelos professores, onde não houver um técnico em multimeios didáticos;
16. propor e incentivar a realização de palestras, encontros e similares com grupos de alunos e professores sobre temas relevantes para a formação integral e desenvolvimento da cidadania;
17. propor, em articulação com a Direção, a implantação e implementação de medidas e ações que contribuam para promover a melhoria da qualidade de ensino e o sucesso escolar dos alunos.
A Portaria 310/014/GS/SEDUC/MT, artigo 32, também trata da função do coordenador pedagógico, além das funções já descritas na Lei Complementar 206/2004:
I. — acompanhar e orientar o desenvolvimento dos Programas e Projetos da unidade escolar;
II. — monitorar o cumprimento das horas atividades dos professores da unidade escolar conforme Portaria n° 308/14/GS/Seduc/MT;
III. — acompanhar, orientar e monitorar o cumprimento da Portaria n° 320/14/GS/Seduc quanto à execução do diário eletrônico e/ou portfólio da Sala de Recursos Multifuncional;
IV. — assegurar e acompanhar os serviços de apoio especializado (Sala de Recursos Multifuncional; Intérprete de Libras; Professor Surdo e/ou Instrutor Surdo, Auxiliar de Turmas, Professor Itinerante e Atendimento Domiciliar) existente na unidade escolar;
V. — ser avaliado no desempenho de sua função pelos professores tomando por base o plano de ação apresentado para o biênio, com vistas à qualificação da gestão pedagógica para o fortalecimento das políticas educacionais;
VI. — acompanhar o estágio dos alunos de Ensino Médio e/ou monitorar o trabalho do professor em readaptação referente ao acompanhamento dos estágios.
Diante do exposto, podemos perceber que a maioria das atribuições está voltada para o acompanhamento pedagógico que visa a uma educação de qualidade.
Na prática, as funções do coordenador pedagógico acabam mudando um pouco o foco pelos muitos olhares que são lançados a respeito de sua identidade e sobre sua função. Olhares esses lançados pelos seus próprios pares e pela comunidade intra e extraescolar e uma das características está ligada a relação da coordenação com o comportamento do aluno. Muitos coordenadores pedagógicos acabam tendo que atuar mais com a área disciplinar do que pedagógica.
Écomum no cotidiano da coordenação pedagógica receber alunos que foram retirados da sala de aula pelo professor por motivo de indisciplina ou violência. Segundo Celso dos S. Vasconcellos (1997), o professor faz o “encaminhamento” na perspectiva de uma transferência de responsabilidade. O professor não sabe o que fazer em sala de aula, então encaminha o aluno e espera, com isso, uma solução “mágica”.
A sociedade contemporânea vem passando por grandes transformações nos aspectos políticos, econômicos, sociais e principalmente tecnológicos, o que a tem levado a uma crise de identidade e perda de limites sociais. A escola não acompanhou tal evolução e, portanto, vem sofrendo, nos últimos tempos, todo o tipo de violência praticada principalmente por crianças e adolescentes. Além da falta de respeito, da agressão física e moral, ela também sofre com a violência contra o patrimônio público e passa de ser um espaço privilegiado de conhecimento e relações sociais a ser uma área de revolta e manifestações da sociedade contra as políticas públicas, muitas vezes desconhecidas por quem as pratica. Todos esses atos de violência prejudicam a qualidade de ensino porque a escola perde a sua autonomia. Apesar de não existir uma fórmula mágica para acabar com a indisciplina e a violência, a conscientização pode ser uma arma poderosa no seu combate.
A depredação do patrimônio público não causa somente agressão ao físico escolar, mas também causa medo e falta de estímulo aos profissionais da educação.
As questões de violência têm sido alvo de grande discussão e estudo. São vários os fatores que podem contribuir para a violência: desemprego, renda, escolaridade, religião, cor, desestruturação familiar, entre outros. No entanto é a banalização da violência o que mais nos preocupa. Várias formas de violência produzida no dia a dia da sociedade parecem não mais chocar ou indignar a sociedade brasileira; tornaram-se parte do cotidiano de todos. É a banalização do humano: matar ou morrer não faz diferença.
Ao se considerar esse cenário, a escola fica “sem chão”. Os professores perdem o estímulo e não se veem como agentes transformadores da sociedade. Nesse sentido, perdem a autonomia, o respeito, a autoestima e preferem se ausentar das responsabilidades culpando a família, o sistema, se eximindo da culpa e esperando um milagre para a mudança de comportamento dos alunos. Diante do problema, a melhor solução para o professor é encaminhar o aluno para a coordenação pedagógica.
Apesar de não justificar os atos de violência e indisciplina na escola, é importante que os educadores não julguem os atos, mas sim unam forças para discutir, analisar e buscar soluções para o aluno que manifesta atitudes inadequadas na escola. Uma mesma situação pode ser vista por diferentes prismas. A destruição do espaço físico escolar para a escola é um ato de violência; no entanto, para a criança ou adolescente que fez pode ser um ato de protesto, de manifestar o descontentamento com as políticas públicas; a inquietude do aluno na sala de aula, a agressão verbal ou física contra um colega pode ser visto pelo professor como ato de indisciplina, violência, mas, para o aluno, pode ser uma manifestação de problemas vivenciados em casa e que foram externados para chamar a atenção para si.
É importante compreender que, mesmo com as diversas transformações e problemas na escola, segundo Vasconcelos (2012, p. 237), “um dos maiores desafios é o resgate do professor como sujeito de transformação: acreditar que pode ter um papel a desempenhar muito importante, embora limitado”. Acreditar na possibilidade de mudança do outro, de si e da realidade. Portanto, esse movimento será de grande valia para a transformação e a melhoria do processo ensino-aprendizagem.
Na rotina de trabalho, a coordenação acaba assumindo uma função de gerenciamento na escola: atende alunos, pais de alunos, estagiários, professores, substitui o professor que falta, comparece à sala de aula quando solicitado por professores, providencia materiais pedagógicos, auxilia na sala de multimídias, entre outras atividades. Na maioria das vezes, o coordenador pedagógico é solicitado para resolver problemas de violência ou de indisciplina. Nesse sentido, ele perde sua verdadeira identidade:
Várias metáforas são construídas sintetizando o seu papel e função na escola com distintas rotulações ou imagens, dentre elas, a de “bom-bril” (mil e uma utilidades), a de “bombeiro” (responsável para o fogo dos conflitos docentes e discentes), a de “salvador da escola” (o profissional que tem de responder pelo desempenho de professores na prática cotidiana e do aproveitamento dos alunos). (Lima e Santos, (2007, p. 79)
Portanto, entendemos que uma das grandes dificuldades para o coordenador pedagógico em desempenhar o seu papel é a perda de sua própria identidade devido ao cotidiano da escola e a algumas crenças que se constroem no seu interior. Outro ponto de dificuldade de realização do trabalho do coordenador pedagógico é a definição do seu campo de trabalho. Apesar de ter claro qual o papel da coordenação pedagógica, ele acaba sendo obrigado a abrir mão dele em virtude das crenças e rotinas que estão arraigadas no interior da escola. Percebemos que atualmente, na maioria das escolas, os coordenadores pedagógicos trabalham sob a perspectiva do senso comum.
Nesse sentido, tudo isso impossibilita a reflexão a respeito das práticas do coordenador pedagógico e a sua intervenção no fazer docente. Quando o coordenador pedagógico questiona planejamentos e práticas pedagógicas, os professores veem a atitude como uma intromissão e respondem que sempre trabalharam desse jeito, foi como aprenderam na universidade. O professor se coloca como aquele que já sabe tudo e que está sempre certo, isto é, que não precisa do palpite de ninguém.
Na rotina de trabalho, a coordenação pedagógica deve mobilizar também a comunidade escolar para a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), que consiste no planejamento maior da instituição que suleia/norteia as ações pedagógicas, financeiro e administrativo de cada comunidade escolar e que, Segundo Vasconcelos (2012, p. 169), “pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.”
Apesar de a comunidade escolar ouvir falar do PPP, poucos sabem seu conceito e seus objetivos. Isso porque ainda existem diretores que tomam suas decisões de forma autoritária e impedem, com isso, que haja uma gestão participativa. Mudar essa cultura não é tarefa fácil.
Nesse contexto, é imprescindível esclarecer aos atores da comunidade escolar o que de fato é o PPP e sua importância, bem como tornar possível uma cultura de gestão democrática e participativa na qual a escola deve ser vista como espaço de deliberação coletiva dos sujeitos escolares. O processo de elaboração do PPP é fundamental porque envolve todos os que atuam na escola, o que dá, segundo Marta Leandro da Silva (2013, p.1), “a sensação de envolvimento com a instituição escolar.”
A tarefa de mobilizar a comunidade escolar em torno da Construção de seu PPP pode ser realizada em momentos, como: reuniões pedagógicas, conselho de classe e sala de educador. Outros mecanismos de divulgação também podem ser usados, como: panfletos, jornais e rádio-escola. O Conselho Deliberativo também é importante nesse processo já que possui representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, o que possibilita mobilizar a comunidade para as reflexões e viabilizar estratégias para a construção coletiva do PPP.
Apesar das dificuldades de mobilização para a construção do PPP de forma coletiva, ele deve ser inicializado com parcerias com aqueles que estão comprometidos com a educação, com aqueles que estão insatisfeitos com o trabalho da escola e com os que querem fazer um trabalho melhor na escola. Acreditamos que um trabalho só é bom quando é coletivo, resultado de uma reflexão política sobre a prática pedagógica. Portanto, é necessário questionarmos o que estamos fazendo a respeito disso e como podemos ser agentes transformadores, junto com outros atores como a família e a comunidade, nesse processo.
De acordo com Marta Leandro da Silva (2013, p. 1),
a ideia de planejamento acompanha o homem em seu próprio processo de humanização uma vez que o ato de planejar está associado à organização de uma determinada ação. Desse modo, cabe dizer que, como prática humana, o planejamento é anterior à ideia de escola.
Assim, podemos claramente compreender a importância de um planejamento para a comunidade escolar denominado Projeto Político Pedagógico, plano global da escola. Nesse sentido, as ações educativas previstas no Planejamento Escolar devem ser articuladas e integradas ao PPP da escola. Esse Planejamento tem como objetivo essencial a melhoria do processo ensino-aprendizagem e a garantia de uma escola de qualidade.
O papel do coordenador pedagógico diante da elaboração do planejamento escolar é fundamental porque ele assume um papel de articulador entre seus pares, é aquele que, segundo Marta Leandro da Silva (2013, p. 4),
pode contribuir para relações mais respeitosas e democráticas na escola. Ou seja, desenvolver a cultura da gestão democrática e participativa significa ter a escola como espaço de deliberação coletiva dos sujeitos escolares, ou seja, todos que pertencem à comunidade escolar: pais, professores, alunos, funcionários e gestores.
Assumir esse papel de articulador é um desafio para o coordenador pedagógico visto que há muita resistência, principalmente por parte de seus pares, que já o rotularam como chefe, como alguém que os punirá caso não “obedeçam às ordens”; portanto, ainda é bastante difícil provocar um diálogo franco e participativo, com foco na discussão e na reflexão de estratégias para a conquista de uma escola qualidade.
Formação continuada e coordenador pedagógico
De acordo com o dicionário Cegalla (2005 p. 430), a palavra formação significa “ação de formar, conferir, conjunto de estudos especiais”. Nesse sentido, entendemos que formação continuada é uma ação ininterrupta, constante de aprimoramento, um processo de construção constante e inacabado.
Segundo Elizete Maria de Jesus et al. (2013), a implantação de políticas públicas, como a de formação continuada para professores, resulta de mudanças sociais, políticas, econômicas, culturais e educacionais.
A formação continuada nos é garantida pela Lei de Diretrizes e Base (LDB, Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996). O artigo 76 diz: “Os sistemas de ensino promoveram a valorização da educação, assegurando-lhes nos termos do estatuto e dos planos de carreira” e, no inciso IV, do mesmo artigo, lê-se: “formação contínua visando ao aprofundamento e atualizações de sua competência técnica”.
Se a formação continuada é o aprimoramento constante do profissional da educação, entendemos que pode acontecer por meio de cursos de aperfeiçoamento, como especializações, e por cursos oferecidos pela própria Secretaria de Educação. Além disso, a formação docente pode acontecer pela troca de experiências adquiridas tanto na academia como em discussões com o seus pares. Tardif (2011, p. 286) nos confirma isso:
[…] esse modelo comporta a implantação de novos dispositivos de formação profissional que proporcionam um vaivém constante entre a prática profissional e a formação teórica, entre a experiência concreta nas salas de aula e a pesquisa, entre os professores e os formadores universitários.
Nesse sentido, percebemos que não importa o tipo de formação continuada que os profissionais da educação usam, mas sim que estejam sempre adquirindo novos conhecimentos, seja ele de forma acadêmica, seja por meio de troca de experiências de suas práticas diárias com seus pares.
Para Candau (1997, p. 08), as formações continuadas podem ser divididas em três eixos:
• Escola: como lócus da formação continuada, onde a prática docente seja reflexiva de modo a identificar e resolver os problemas que surgirem durante o processo de ensino-aprendizagem;
• Valorização do saber docente: onde são valorizados os conhecimentos que os docentes adquirem com a experiência;
• Ciclo de vida dos professores: os educadores sempre estarão em diferentes momentos do exercício docente.
Nesse processo constante de aperfeiçoamento, o objetivo maior é a qualidade da educação, atingida por meio de uma organização do ensino de forma competente e eficaz. A formação continuada aparece como um desafio:
A formação continuada se insere como desafio na superação da dicotomia entre saber e experiência, conhecimento e prática, tendo como objetivo instrumentalizar o professor na perspectiva de que ele assuma sua prática mediante a reflexão da experiência vivida. (Saul, 1993 apud Cabral, 1998, p. 93)
Assim, falar sobre a formação continuada do docente é falar sobre como garantir um domínio adequado do saber científico, da técnica e uma constante reflexão sobre seu fazer pedagógico.
Durante o processo de formação, o professor desenvolve uma ação educativa capaz de formar/preparar os alunos para se verem como atores sociais críticos e responsáveis pela transformação da sociedade. Portanto, a formação continuada é um instrumento com o qual ele assume sua prática mediante reflexões constantes do seu fazer pedagógico a fim de melhorar a qualidade de ensino. Assim, “o coordenador pedagógico aparece como importante ator desempenhando um de seus principais papéis, o de formador” (Lima e Santos, 2007, p. 81). Nesse sentido, é lançado um novo olhar sobre a identidade da figura do coordenador pedagógico: o de colaborar com a formação dos professores, conforme afirma Paulo Gomes Lima e Sandra Mendes dos Santos (2007, p. 83):
Este olhar é necessário como busca identitária, não é objeto outorgado somente por normalização institucional, mas certamente é um espaço de conquista, é um espaço de resolução de conflitos e de assunção do papel profissional do coordenador pedagógico como ator social, agente facilitador e problematizador do papel do docente no âmbito da formação continuada, primando pelas intervenções e encaminhamentos mais viáveis ao processo ensino-aprendizagem.
É importante ressaltar que o coordenador pedagógico não se caracteriza, segundo Paulo Gomes Lima e Sandra Mendes dos Santos (2007, p. 84), “como dimensão mecânica e centralizadora definidora da relação mando-submissão alienando-se das questões contextuais que inquietam professores alunos e comunidade; muito pelo contrário, garante espaço da dialogicidade.”
Diante desse contexto, o coordenador pedagógico será o elemento que fortalecerá o agrupamento dos atores sociais na perspectiva de atender à comunidade extraescolar com o objetivo de atingir uma educação de qualidade e superar os obstáculos que venham inviabilizar ações coletivas. Segundo Paulo Gomes Lima e Sandra Mendes dos Santos (2007, p. 84),
[…] cabe ao coordenador pedagógico, juntamente com todos os outros educadores, exercer o “ofício de coordenar para educar” também aqui no sentido de possibilitar trocas e dinâmicas da própria essência da aprendizagem: aprender a aprender e junto com, essência do que se concebe como formação continuada de educadores.
Não se trata de imaginar que cabe ao coordenador pedagógico fazer tudo sozinho, porém cabe a ele, que está a serviço no grupo no encaminhamento dos objetivos, encontrar a superação dos problemas detectados, que seja capaz de promover a dinâmica necessária para o diálogo.
Nesse sentido, o coordenador pedagógico buscará informações, por meio de leituras, seminários, encontros com outros coordenadores, e passará a ser multiplicador do conhe-cimento. Portanto, o coordenador pedagógico proporcionará ao corpo docente momentos de leituras, trocas de experiências e reflexões, em que “a articulação entre teoria e prática passa a ser o eixo central da formação de professores como profissionais reflexivos” (Cabral 1998, p. 96).
Ao assumir o papel de formador do corpo docente, o coordenador pedagógico estará assumindo, juntamente com todos os professores, a responsabilidade por uma educação pública de qualidade.
Considerações Finais
O cotidiano do coordenador pedagógico é marcado por situações e experiências que o leva a atuações desordenadas, imediatista, ansiosa e que favorece situações de desvios no desenvolvimento de sua função. Nesse sentido,é solicitado ao coordenador pedagógico realizar todo tipo de atividades, cujo responsável está impossibilitado de realizar por sobrecarga ou por ausência na escola, assim ele se torna um “faz tudo”.
É necessário que o coordenador pedagógico enfrente o desafio de construir seu novo perfil profissional e delimitar seu espaço de atuação. Sua contribuição para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e das condições do exercício profissional do corpo docente dependerá do sucesso alcançado nessa missão.
Nesse contexto, o coordenador aparece como importante ator, que desempenha um de seus principais papéis: o de formador. Ele assume o papel de articulador no processo de formação continuada. O trabalho de formação continuada do professor é capaz de preparar os alunos para serem atores sociais críticos e participativos, agentes transformadores da sociedade.
Nesse sentido, entendemos que o coordenador pedagógico é o responsável por provocar o diálogo entre a equipe pedagógica, direção e comunidade escolar com a finalidade de detectar os problemas e promover a reflexão das práticas pedagógicas.
Ao assumir o papel de formador do corpo docente, o coordenador pedagógico estará assumindo, juntamente com todos os professores, a responsabilidade por uma educação pública de qualidade.