Historia Crítica

Hist. Crit. | eISSN 1900-6152 | ISSN 0121-1617

A natureza e a modernidade urbana de Goiânia nos discursos da cidade símbolo do Oeste brasileiro (1932-1942)

No. 74 (2019-10-01)
  • Anderson Dutra e Silva
    Centro Universitário de Anápolis, Brasil
  • Sandro Dutra e Silva
    Universidade Estadual de Goiás, Brasil Centro Universitário de Anápolis, Brasil

Resumen

Objetivo/Contexto: Este artigo busca apresentar o contexto histórico da criação de Goiânia, capital do estado de Goiás, construída na década de 1930 como símbolo da expansão da fronteira demográfica e agrícola no Brasil Central. A cidade surgiu através do trabalho realizado por Pedro Ludovico Teixeira, nomeado interventor estadual pelo presidente Getúlio Vargas. No processo de construção, a falta de recursos financeiros e o isolamento da região em relação aos grandes centros de país criou barreiras como a dificuldade de se obter materiais e mão de obra. Em oposição à realidade, havia o discurso dos boosters, ou divulgadores da capital, que creditavam, à “metrópole” prometida, o poder de criar boas oportunidades de crescimento econômico. Para isso, fundamentavam-se nos recursos naturais como os cursos d’água, a presença de ricas matas nas proximidades e o relevo pouco acidentado da região de campo cerrado. Metodologia: O estudo utilizou-se de documentação com base em informes técnicos, relatos memorialistas, fotografias, mapas, publicações de jornais e periódicos da época, além de bibliografia fundamentada nos pressupostos teóricos e metodológicos da História Ambiental. Originalidade: A historiografia do Brasil Central tem sido, muitas vezes analisadas pela perspectiva da fronteira e não sob a ótica da história ambiental. Neste trabalho, procuramos nos apropriar dessas duas questões, reforçando a relação entre os processos rurais e urbanos da história ambiental do Cerrado no Brasil Central. Conclusões: O cenário real era diferente do propagado, pois a natureza foi muito mais uma barreira do que um elemento facilitador do desenvolvimento. Também, os ideais do urbanismo moderno foram parcialmente abandonados em função do oportunismo da venda de lotes. E, ainda, o crescimento de fato se deu, porém não pela abundância dos recursos naturais, mas pela transferência da capital que se retroalimentava à medida que atraía novos habitantes.

Palabras clave: Brasil, fronteira, história, recursos naturais, urbanização

Referencias

Fontes primárias

Arquivos

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