Lições de La longue durée: o legado de Fernand Braudel
No. 69 (2018-07-01)Autor(es)
-
Richard E. LeeFernand Braudel Center for the Study of Economies, Historical Systems, and Civilizations, United States
Resumo
Em 1958, em resposta ao que considerou uma crise geral nas ciências humanas e uma tentativa de reconciliação, Fernand Braudel reestruturou sua ideia do tempo como construto social, e não como um simples parâmetro cronológico. Este artigo começa com as lições da ideia de pluralidade em tempos sociais, com base no conceito de Braudel da longue durée para a análise social. A primeira lição foi que vivemos num “mundo” singular. Seu enfoque derivou na premissa principal da análise sistema-mundo a qual refere que os sistemas sociais históricos surgem como um grupo de indivíduos únicos indivisíveis, em estruturas de longue durée dentro de um começo e um fim que são reconhecíveis em longo prazo, mas não para sempre no passado nem no futuro. Como Braudel observou, a reprodução dessas estruturas —segundo a análise do sistema-mundo, a divisão axial do trabalho, o sistema interestatal e as estruturas de conhecimento— mostram tendências seculares e ritmos cíclicos que podem ser percebidos durante a vida do sistema. Contudo, em algum momento, os processos que reproduzem essas estruturas entram em confronto com assintotas ou limitações para superar as contradições do sistema, causando que o sistema deixe de existir. A segunda grande lição da longue durée de Braudel foi permitir-nos ver com clareza a singularidade do nosso mundo, mas também seu caráter único. Ele mostra um mundo que se expande para globalizar-se, que está formado por três cenários que são analiticamente diferentes, mas funcionais, e existencialmente são inseparáveis no âmbito estrutural como não tinham existido antes. A terceira grande lição longue durée foi possibilitar interpretar a crise como oportunidade para gerar mudanças estruturais fundamentais.Por último, este artigo estuda as consequências éticas e metodológicas do esgotamento simultâneo do processo de garantia da interminável acumulação e contenção da luta de classes que se apresenta hoje, após o colapso das estruturas intelectuais coconstitutivas.
Referências
Braudel, Fernand. La Méditerranée et le monde Méditerranéen à l’époque de Philippe II. París: Editorial Armand Colin, 1949.
Braudel, Fernand. “Histoire et Sciences sociales: La longue durée.” Annales 13, n. ° 4 (1958) : 725-753.
Braudel, Fernand. “History and the Social Sciences: The Longue Durée.” Review 32, 2 (2009): 171-203.
Prigogine, Ilya. The End of Certainty: Time, Chaos, and the New Laws of Nature. New York: Free Press, 1997.
Hopkins, Terence K., Immanuel Wallerstein, John Casparis, Georgi M. Derlugian, Satoshi Ikeda, Richard Lee, Sheila Pelizzon, Thomas Reifer, Jamie Sudler and Faruk Tabak. The Age of Transition: Trajectory of the World-System 1945-2025. London: Zed Books, 1996.