“Botânicos e zóologos práticos”: Colaborações dos nativos amazônicos para as expedições de história natural (1846-1865)
No. 73 (2019-07-01)Autor(es)
-
Anderson Pereira AntunesFundação Oswaldo Cruz/Fiocruz, Brazil
-
Luisa MassaraniFundação Oswaldo Cruz/Fiocruz, Brazil
-
Ildeu de Castro MoreiraUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil
Resumo
Objetivo/contexto: Este trabalho analisa as relações entre os naturalistas do século XIX e os habitantes indígenas da Amazônia brasileira. A região foi um espaço predileto entre os viajantes durante a segunda metade do século XIX. Em seus livros de viagens, os naturalistas não falavam somente sobre a natureza, mas também sobre os habitantes locais e suas colaborações para as expedições, o que os converte em fontes valiosas para compreender as interações entre eles e os nativos. Originalidade: A originalidade do artigo se baseia no uso de um conjunto diverso de fontes primárias, a saber, livros de viagem do século XIX. O artigo contribui para a historiografia atual sobre as expedições de História Natural, ao mesmo tempo em que aponta especificamente para as relações entre os naturalistas e os habitantes indígenas da região. Metodologia: A análise se baseia em fontes primárias, que consistem, principalmente, nos livros de viagem escritos e publicados por alguns dos mais reconhecidos naturalistas viajantes do século que visitaram a Amazônia brasileira. A partir de seus relatórios e observações pessoais pretendemos compreender, por um lado, como esses naturalistas estrangeiros interagiram com os habitantes indígenas locais e, por outro, como os nativos colaboraram com as expedições científicas dirigidas pelos naturalistas europeus. Conclusões: É razoável concluir que os habitantes indígenas da Amazônia brasileira tiveram uma presença constante durante as expedições do século XIX na região. As interações entre naturalistas e nativos, às vezes mediadas por um terceiro, foram frequentemente essenciais para o sucesso dessas expedições. A principal colaboração dos habitantes indígenas, de acordo com o que foi declarado pelos próprios naturalistas, foi a ajuda na coleta de espécies. O conhecimento especializado dos nativos sobre os hábitos e hábitats dos animais e das plantas, combinados com suas habilidades de caça e navegação através do complexo sistema fluvial da região, parecem ter sido uma fonte de admiração, bem como de informação e espécimenes.
Referências
Primary Sources
Printed Primary Documentation
Agassiz, Louis and Elizabeth Cabot Cary Agassiz. A journey in Brazil. Boston: Ticknor and Fields, 1868.
Agassiz, Louis. “Letter to Charles Sumner.” Rio Negro, December 26th 1865. Louis Agassiz Correspondence and Other Papers, 1821–1877. Series I, MS Am 1419. Houghton Library, Harvard University.
Bates, Henry Walter. The Naturalist on the River Amazons. A Record of Adventures, Habits of Animals, Sketches of Brazilian and Indian Life, and Aspects of Nature under the Equator, During Eleven Years of Travel, 2 vols. London: John Murray. 1863-1864.
Edwards, William Henry. A Voyage up the Amazon Including a Residency at Pará. New York: D. Appleton & Company, 1847.
Markham, Clements R. “A List of the Tribes in the Valley of the Amazon, Including those on the Banks of the Main Stream and of all Its Tributaries.” The Journal of the Anthropological Institute of Great Britain and Ireland 24 (1895): 236-284.
Museum of Comparative Zoology. Annual Report of the Trustees of the Museum of Comparative Zoology, at Harvard College, in Cambridge, Together with the Report of the Director, 1866. Boston: Wright & Potter, 1867.
“Pocket-Book, with enclosures (ff. 169-175), of Henry Walter Bates, the naturalist, used during his travels in brazil, of which he gave an account in The Naturalist on the River Amazons”. Reference: Add MS 42138 A-B.Western Manuscripts, British Library, London, United Kingdom.
Spruce, Richard. Notes of a Botanist on the Amazon & Andes, 2 vols. London: MacMillan and Co. Limited, 1908.
Wallace, Alfred Russel. A narrative of Travels on the Amazon and Rio Negro: With an Account of the Native Tribes, and Observations on the Climate, Geology, and Natural History of the Amazon Valley. Londres: Reeve and Co., 1853.
Wallace, Alfred Russel. My life. A Record of Events and Opinions by Alfred Russel Wallace, 2 vols. Londres: Chapman & Hall, Ltd. 1905.
Secondary Sources
Abdalla, Frederico Tavares de Mello. “O peregrino instruído: um estudo sobre o viajar e o viajante na literatura científica do Iluminismo,” dissertation (Master in History), Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012, <http://www.humanas.ufpr.br/portal/arquivos/FredericoAbdalla.pdf>
Antunes, Anderson Pereira. “A rede dos invisíveis: uma análise dos auxiliares na expedição de Louis Agassiz ao Brasil (1865-1866),” dissertation (Master in the History of Science and Medicine). Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, 2015, <http://www.ppghcs.coc.fiocruz.br/images/dissertacoes/dissertacao_anderson_antunes.pdf>
Antunes, Anderson, Luisa Massarani, and Ildeu Moreira. “Uma análise da rede de auxiliares da expedição de Louis Agassiz a Brasil (1865-1866).” Revista Brasileira de História da Ciência 9, n.° 1 (2016): 113-125.
Antunes, Anderson Pereira, Luisa Medeiros Massarani and Ildeu De Castro Moreira. “Local Collaborators in Henry Walter Bates’s Amazonian Expedition (1848-1859).” The Scientific Dialogue Linking America, Asia, and Europe Between the 12th and the 20th Century. Theories and Techniques Travelling in Space and Time. Naples: Associazione culturale Viaggiatori, 2018, 382-400.
Camerini, Jane. “Wallace in the Field.” Osiris 11 (1996): 44-65.
Camerini, Jane. “Remains of the Day: Early Victorians in the Field.” In Victorian Science in Context, edited by Bernard Lightman. Chicago: The University of Chicago Press, 1997, 354-377.
Conner, Clifford D. A People´s History of Science. New York: Nation Books, 2005.
Domingues, Angela. “Oficiais, cavalheiros e concorrentes: o ‘Brasil’ nas viagens de circum-navegação do século das Luzes.” Revista de Indias LXXIII, n.° 258 (2013): 365-398.
Fan, Fa-ti. “Science in a Chinese Entrepôt: British naturalists and Their Chinese Associates in Old Canton”. Osiris 18 (2003): 60-78.
Ginzburg, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Hodacs, Hanna. “Linnaeans Outdoors: the Transformative Role of Studying Nature ‘On The Move’ and Outside.” British Journal of History of Science 44, n.° 2 (2011): 1-27.
Kury, Lorelai. “Viajantes-naturalistas no Brasil oitocentista: experiência, relato e imagem.” História, Ciências, Saúde – Manguinhos 8 (2001): 863-880.
Kury, Lorelai, ed. Comissão científica do Império. 1859–1861. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda, 2009.
Lisboa, Karen Macknow. A nova Atlântida de Spix e Martius: Natureza e civilização na Viagem pelo Brasil (1817-1820). São Paulo: Hucitec, 1997.
Machado, Maria Helena P. T. and Sasha Huber, eds., Rastros e raças de Louis Agassiz: fotografia, corpo e ciência, ontem e hoje. São Paulo: Capacete Entretenimentos, 2010.
Machado, Maria Helena P. T. “Retratos da segregação.” Revista de História da Biblioteca Nacional. Edição especial História da Ciência 1 (2010): 14-19.
Menand, Louis. “Morton, Agassiz, and the origins of scientific racism in the United States.” The Journal of Blacks in Higher Education 34 (2001-2002): 110-113.
Moreira, Ildeu de Castro. “O escravo do naturalista: a contribuição de conhecimentos e habilidades de populações nativas para o trabalho dos naturalistas,” presentation at the XXI International Congress of History of Science, Mexico, 2001.
Moreira, Ildeu de Castro. “O escravo do naturalista.” Ciência hoje 31, n.° 184 (2002): 40-48.
Pratt, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. São Paulo: EDUSC, 1999.
Raj, Kapil. Relocating Modern Science. Circulation and the Construction of Knowledge in South Asia and Europe, 1605-1900. Houndmills and New York: Palgrave Mcmillan, 2010.
Schiebinger, Londa. Plants and Empire. Cambridge: Harvard University Press, 2004.
Shapin, Steven. A Social History of Truth: Civility and Science in Seventeenth-Century England. Chicago: University of Chicago Press, 1994.
Turner, Frank M. “Practicing Science: An Introduction.” In Victorian Science in Context, edited by Bernard Lightman. Chicago: The University of Chicago Press, 1997, 283-289.