Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología

Antipod. Rev. Antropol. Arqueol | eISSN 2011-4273 | ISSN 1900-5407

Animais como psicopompos nas sepulturas do sítio arqueológico Justino? (Canindé de São Francisco — Sub-região de Xingó — Sergipe, Brasil)

No. 28 (2017-05-01)
  • Albérico Nogueira de Queiroz
  • Carlos Eduardo Cardoso
  • Olivia Alexandre de Carvalho

Resumo

A sub-região conhecida como Xingó, a qual engloba a cidade de Canindé de São Francisco, localizado no estado de Sergipe, no nordeste do Brasil, abriga uma série de sítios arqueológicos. Destes, pode-se destacar o sítio Justino devido à presença de um grande quantitativo de vestígios, testemunho de populações pretéritas que ocuparam essa região. Nessa área, os remanescentes faunísticos integrados às sepulturas humanas sob os números 119 e 166 foram analisados com base em suas características morfológicas e contexto fúnebre, cujos resultados demonstraram tratar-se da espécie Galictis cuja (Molina 1782) (mamífero da família Mustelidae) e de uma ave de rapina de tamanho médio, com características semelhantes a um falconídeo adulto, respectivamente. O estudo das sepulturas humanas na região de Xingó, nas quais os animais foram inumados inteiros, com os ossos em conexão, indicou um contexto ritual e simbólico elaborado de práticas mortuárias humanas e animais. Esse conjunto levou ao estabelecimento de uma analogia com o encontrado na literatura sul-americana, a qual relata, em casos caracteristicamente semelhantes no Peru (complexo Huaca del Sol e Huaca de la Luna), a função de animais como condutores da vida à morte, ou guia das almas, conhecidos na literatura como psicopompos. Essa prática em especial envolve comumente a fauna de diferentes espécies associadas a sepultamentos humanos, cuja iconografia, inclusive, relata essas relações humano-animal nos contextos funerários em períodos pré-coloniais.

Palavras-chave: arqueologia, morte, Brasil, zooarqueologia, psicopompos, sítio arqueológico justino

Referências

Aguilar, Javier, RaílBellodas, JorgeGamboa, OlgaHaro, DeliciaRegalado. 1999. “Estudio Arquitectónico de la Plaza 1, Huaca de La Luna, Valle de Moche”. Segundo Informe preliminar de trabajo de campo, Escuela Académico Profesional de Arqueología, Universidad Nacional de Trujillo, Perú.

Arsenault, Daniel. 1992. “Pratiques alimentaires rituelles dans la société mochica: le contexte du festin”. Recherches Amérindiennes au Québec 22 (1): 45-62.

Arsenault, Daniel. 1994. “Symbolisme, rapports sociaux et pouvoir dans les contextes sacrificiels de la société mochica (Pérou précolombien). Une étude archéologique et iconogra-phique”, tese de doutorado, Université de Montréal, Canadá.

Balieiro, Cristina, Dimas A.Künsch, Lobato MarceloMartinez, José EugenioMenezes. 2015. “A imagem arquetípica do psicopompo nas representações de Exu, Ganesha, Hermes e Toth”. Revista de Estudos Universitários 41(2): 295-311.

Bornholdt, Renata, KristoferHelgen, Klaus-PeterKoepfli, LarissaOliveira, MauroLucherini, EduardoEizirik. 2013. “Taxonomic revision of genus Galictis (Carnivora: Mustelidae): species delimitation, morphological diagnosis and refined mapping of geographic distribution”. Zoological Journal of the Linnean Society 167: 449-472.

Cardoso, Carlos E. 2015. “A aplicação de resina consolidante e a arqueofauna nas práticas funerárias do sítio arqueológico Justino, Canindé de São Francisco, Sergipe, Brasil”, dissertação de mestrado, Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

Carvalho, Olivia A. 2006. “Contribution à l’Archéologie brésilienne: Étude paléoanthropologique de deux nécropoles de la région de Xingó, état de Sergipe, Nord-est du Brésil”, tese de doutorado, Université de Genève, Suíça.

Carvalho, Olivia A., Alberico N.de Queiroz, Maria Cleonicede Souza Vergne. 2002. “A diagnose de sexo e idade em esqueletos humanos de sepulturas com ossos de animais do Sítio Justino (Canindé do São Francisco, Sergipe, Brasil)”. Canindé-Revista do Museu de Arqueologia de Xingó 2 (2): 275-281.

Dominguez, José Maria e ArnoBritcha. 1997. “Estudos sedimentológicos a montante da UHE de Xingó”. Relatório de Consultoria, documento 4. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CHESF, PETROBRAS.

Donnan, Christopher B. 1982. “Dance in the Moche art”. Ñawpa Pacha 20: 97-120.

Erikson, Philippe. 1983. “L’animal (sauvage, familier, domestique) en Amazonie indigène”, dissertação de mestrado, Université Paris X-Nanterre, França.

Erikson, Philippe. 2012. “Animais demais...os xerimbabos no espaço doméstico Matis (Amazonas)”. Anuário Antropológico II: 15-22. Doi: 10.4000/aa.143

Fagundes, Marcelo. 2007. “Sistema de assentamento e tecnologia lítica: organização tecnológica e variabilidade no registro arqueológico em Xingó, baixo São Francisco, Brasil”, tese de doutorado, Universidade de São Paulo, Brasil.

Franch, José Alcina. 1997. “Cosmovisión andina y mesoamericana: una comparación”, Em Arqueología, Antropología, e Historia de los Andes: Homenaje a María Ostworowski, editado por RafaelVarón Gabai y JavierFlores Espinoza, 653-675. Lima: IEP.

GarcíaEscudero, Maríadel Carmen. 2010. Cosmovisión Inca: Nuevos enfoques y viejos problemas, tese de doutorado, Universidad de Salamanca, Espanha.

Goepfert, Nicolás. 2008. “Ofrendas y sacrificio de animales en la cultura Mochica: El ejemplo de la Plataforma Uhle, Complejo Arqueológico Huacas del Sol y de la Luna”. Em Arqueología Mochica. Nuevos Enfoques. Actas del Primer Congreso Internacional de Jóvenes Investigadores de la Cultura Mochica, Lima, 4–5 de agosto de 2004, editado por Luis JaimeCastillo Butters, HélèneBernier, GregoryLockard e JulioRucabado Yong, 231–244. Lima: Institut Français d’Études Andines, Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católico del Perú.

Goepfert, Nicolás. 2010. “Les seigneurs mochica art, mort et sacrifice”. Archéologia 476: 36-49.

Goepfert, Nicolás. 2012. “New zooarchaeological and funerary perspectives on Mochica Culture”. Journal of Field Archaeology 32 (2): 104-120.

González Torres, Yólotl. 2001. Animales y plantas en la cosmovisión mesoamericana. México: Conaculta-INAH, Plaza y Valdès Editores, Sociedad Mexicana para el Estudio de las Religiones.

Jung, Carl Gustav. 2011. “A Índia: um mundo de sonhos”. Em Civilização em transição, 236-245. Petrópolis: Vozes.

Leal, Inara R., José Maria C.Da Silva, MarceloTabarelli e Thomas E.LacherJr. 2005. “Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil”. Megadiversidade 1 (1): 139-146.

Luna, Suely Cristina. 1996. “Os grupos ceramistas do Baixo São Francisco: primeiros resultados”. Em Cadernos de Arqueologia. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe, PAX, PETROBRAS/CHESF.

Martin, Gabriela. 1996. “O cemitério Pré-Histórico Pedra do Alexandre em Carnaúba dos Dantas, RN”. Clio–Série Arqueológica 11: 43-57.

Martin, Gabriela. 2005. Pré-História o Nordeste Brasil. Recife: UFPE.

Moreman, Christopher M. 2014. “On the relationship between birds and spirits of the dead”. Society and Animals Journal of Human-Animal Studies 22 (5): 481-502.

Queiroz, Albérico N. 1999. “Panorama de l’Archeozoologie au Bresil”. Em L’Amérique du Sud: Des Chasseurs-Cueilleurs à l’Empire Inca. Actes Des Journees D’Etude D’Archeologie Precolombienne, Geneve, 10-11 Octobre 1997, 23-29. Oxford: Arhaeopress.

Queiroz, Albérico N. 2010. “Zooarchaeology in Brazil: From Yesterday to the Challenge of the New Perspectives”. Em Estado actual de la arqueozoologia latinoamericana, editado GuillermoMengoni Goñalons, JoaquinArroyo-Cabrales, Óscar J.Polaco, Felisa J.Aguilar. México: Instituto Nacional de Antropología e Historia, Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología, Universidad de Buenos Aires.

Queiroz, Alberico N de, Olivia A.de Carvalho. 2005. “Les animaux dans les tombes de Justino, Xingó (Brésil) et leur rapport à l’archéologie brésilienne”. Révue de Paléobiologie 10: 129-133.

Queiroz, Albérico N., Olivia A.Carvalho. 2008. “Problems in the interpretation of Brazilian archaeofaunas: different contexts and the important role of taphonomy”. Quaternary International 18: 75-89.

Queiroz, Albérico N., Olivia A.Carvalho; Jaciara AndradeSilva, Carlos E.Cardoso. 2014. “Whole vertebrates and invertebrates related to human burials from Xingo region, Sergipe and Alagoas states, Northeastern Brazil”. Cuadernos del Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano 1 (2): 122-128.

Reis, A.Carlosde Souza. 1976. Clima da Caatinga. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências.

Santana, Alquizia Dorcas Dantas de. 2013. “Datação por radiocarbono-AMS do sítio arqueológico Justino, Canindé de São Francisco, Sergipe”, dissertação de mestrado, Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

Silva, Jaciara Andrade. 2013. “O Corpo e os Adereços: Sepultamentos Humanos e as Especificidades dos Adornos Funerários”, dissertação de mestrado, Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

Simon, Christian, Olivia A.Carvalho, Alberico N.Queiroz y LouisChaix. 1999. Enterramentos na necrópole do Justino - Xingó. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe.

Whitmont, Edward. C. 2002. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. São Paulo: Cultrix.