Experiência e subjetividade de mulheres sobreviventes de violência sexual durante o conflito armado interno peruano
No. 44 (2021-07-01)Autor(es)
-
Camila Fernanda Sastre DíazPontificia Universidad Católica del Perú
Resumo
Durante o conflito armado interno peruano, nas comunidades de Manta e Vilca, foram instaladas bases militares a fim de manter a ordem na região. Contudo, de forma cotidiana e reiterada, os soldados começaram a estuprar as mulheres. O objetivo deste artigo é refletir sobre como as mulheres sobreviventes de violência sexual significaram essas experiências. Neste artigo, examino o discurso contido nos depoimentos das mulheres das comunidades de Manta e Vilca prestados à Comissão da Verdade e da Reconciliação do Peru. Em seguida, analiso em profundidade as conversas que tive com seis das nove mulheres sobreviventes de estupros da comunidade de Manta que fazem parte querelante do processo judicial em andamento desde 2016 contra catorze militares acusados de serem seus agressores. Essas conversas fazem parte de meu trabalho etnográfico desenvolvido em 2018 e 2019. A modo de conclusão, observo que os significados que as mulheres sobreviventes dão a suas experiências refletem subjetividades relacionadas com o contexto histórico, mas principalmente com o contexto sociocultural. Essas subjetividades variam no tempo, produzindo-se ressignificações das experiências. Portanto, neste artigo, pretendo resgatar as vozes das mulheres a partir do uso da noção de sobrevivente de violência sexual, a qual teórica e metodologicamente busca resgatar a agência e a criatividade das mulheres que vivenciam essas experiências.