Etnografia não é método
No. 44 (2021-07-01)Autor(es)
-
Mariza Peirano
Resumo
Esta é a tradução do artigo que resulta da palestra proferida por Mariza Peirano, professora emérita da Universidade de Brasília, pela comemoração dos 40 anos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2014. Partindo de uma história pessoal, que transporta o leitor ao universo da Antropologia da Política, a autora argumenta que a antropologia é o resultado de formulações teórico-etnográficas registradas em monografias, nas quais o estranhamento, o empirismo e a reflexividade são ferramentas fundamentais para a criação de uma teoria vivida que atualiza as questões e as várias histórias teóricas da Antropologia. Esta tradução é fundamental para a formação de novas gerações de antropólogos/as dos níveis de graduação e pós-graduação, bem como para públicos mais amplos nas ciências humanas e sociais, pois visa problematizar a separação e a hierarquização entre teoria, método e trabalho de campo na produção de conhecimento. Questionando o pressuposto da etnografia como sendo apenas um método, amplamente difundido na produção científica e técnica, para além da Antropologia, Peirano convida o leitor a pensar e cultivar uma atitude etnográfica que valoriza a surpresa (o que coloca o pesquisador em perspectiva) e permite a abertura e a reformulação de hipóteses com base na experiência de trabalho de campo. Assim, o “método etnográfico” implica a rejeição de uma orientação previamente definida e o reforço teórico a partir da experiência do etnógrafo e o confronto com novos dados de campo, criando fatos etnográficos que apontam para uma recombinação e criação intelectuais permanentes.
Referências
Elias, Norbert. 1971. “Sociology of Knowledge: New Perspectives. Part Two”. Sociology 5 (3): 355-370. https://doi.org/10.1177/003803857100500304
Evans-Pritchard, E. E. 1962. Social Anthropology and Other Essays: Combining Social Anthropology and Essays in Social Anthropology. Nueva York: The Free Press.
Fernandes, Florestan. 1961. “A unidade das ciências sociais e a antropologia”. Anhembi 44 (132): 453-470.
Firth, Raymond. 1966. “Twins, Birds and Vegetables: Problems of Identification in Primitive Religious Thought”. Man New Series 1 (1): 1-17. https://doi.org/10.2307/2795897
Fraenkel, Béatrice. 1992. La signature: genèse d’un signe. París: Gallimard.
Groebner, Valentin. 2007. Who Are You? Identification, Deception, and Surveillance in Early Modern Europe. Nueva York: Zone Books.
Leach, Edmund. 1966. “Virgin Birth”. Proceedings of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland. (1966): 39-49. https://doi.org/10.2307/3031713
Leach, Edmund. 1954. Political Systems of Highland Burma: A Study of Kachin Social Structure. Londres: The Athlone Press.
Lévi-Strauss, Claude. 1976. “The Scope of Anthropology”. En Structural Anthropology II, ClaudeLévi-Strauss, 3-32. Nueva York: Basic Books.
Lévi-Strauss, Claude. 1962. “A crise moderna da antropologia”. Revista de Antropologia 10 (1-2): 19-26.
Madan, T. N. 1994. Pathways: Approaches to the Study of Society in India. Delhi: Oxford University Press.
Peirano, Mariza. 2011. “Identifique-se! O caso Henry Gates versus James Crowley como exercício antropológico”. Revista Brasileira de Ciências Sociais 26 (77): 63-77. https://doi.org/10.1590/S0102-69092011000300008
Peirano, Mariza. 2009. “O paradoxo dos documentos de identidade: relato de uma experiência nos Estados Unidos”. Horizontes Antropológicos 15 (32): 53-80. https://doi.org/10.1590/S0104-71832009000200003
Peirano, Mariza. 2004. “Pecados e virtudes da antropologia. Uma reação ao problema do nacionalismo metodológico”. Novos Estudos Cebrap 69: 49-56. http://www.marizapeirano.com.br/artigos/pecados_e_virtudes_da_antropologia.htm
Peirano, Mariza. 1998. “When Anthropology Is at Home. The Different Contexts of a Single Discipline”. Annual Review of Anthropology 27: 105-129. https://doi.org/10.1146/annurev.anthro.27.1.105
Peirano, Mariza. 1986. “‘Sem lenço, sem documento’: reflexões sobre cidadania no Brasil”. Sociedade e Estado 1 (1): 49-64. http://www.marizapeirano.com.br/artigos/sem_lenco_sem_documento.html
Peirano, Mariza. 1978. “Entrevista a Florestan Fernandes”. 1 de diciembre de 1978. http://www.marizapeirano.com.br/entrevistas/florestan_fernandes.pdf
Sanabria, Guillermo Vega. 2005. O ensino da antropologia no Brasil: um estudo sobre as formas institucionalizadas de transmissão da cultura. Disertación (maestría), Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/102383/229516.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Schneider, David. M. (1965) 2011. “Some Muddles in the Models: Or, How the System Really Works”. HAU: Journal of Ethnographic Theory 1 (1): 451-492. https://doi.org/10.14318/hau1.1.018
StockingJr.Geoge W. 2010. Glimpses into my Own Black Box: An Exercise in Self-Deconstruction. Madison: The University of Wisconsin Press.