“A gravidez está na cabeça, não no útero”: o oráculo diloggún e o despertar da fertilidade na regla de ocha cubana
No. 55 (2024-04-15)Autor(es)
-
Angélica María Rivera LópezUniversidade Federal de Goiás, BrasilORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-7056-9743
-
Hans Carrillo GuachUniversidade Federal de Goiás, BrasilORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-5002-3601
Resumo
As religiões são geralmente reconhecidas como tendo o potencial de mobilizar transformações sociais, psicológicas e fisiológicas, o que é uma das razões pelas quais elas têm sido recorrentemente consideradas nos estudos das ciências sociais e humanas. Nesse campo analítico, a compreensão das doenças e das formas de cura por meio de diferentes práticas — rituais, cosmologias e adivinhações — tem sido amplamente abordada. Entretanto, em algumas denominações religiosas, a pesquisa sobre as doenças reprodutivas femininas e suas respectivas formas de intervenção ainda é incipiente. Esse é o caso das religiões de matriz africana, como a regla de ocha (santería) em Cuba. Assim, o artigo tem como objetivo compreender a cura de doenças do aparelho reprodutor feminino por meio do oráculo diloggún utilizado na regla de ocha. A pesquisa, da qual derivam nossos argumentos, foi realizada entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 em Santa Marta, Cárdenas, Cuba. Metodologicamente, ela adota uma abordagem etnográfica e narrativa na qual a reflexividade em torno de nossas experiências ocupa um lugar central na abordagem das discussões. Consequentemente, ela não apenas explica os processos envolvidos na prática desse oráculo e seus impactos socioespirituais com relação a possíveis mundos de bem-estar, mas também argumenta em favor de complementaridades conceituais e teórico-metodológicas sobre a cura. Dessa forma, o artigo contribui para a compreensão ainda incipiente dos vínculos entre fertilidade feminina e cura na regla de ocha e das relações entre bem-estar, mal-estar e espiritualidade que se constituem nesse sistema religioso.
Referências
Abaroa Boloña, Leonel. 2013. “Bóvedas Espirituales: A Theological Study of Cuban Family Religions”. Tesis doctoral, Department of the Toronto School of Theology Faculty of Divinity, Trinity College and the Theology, University of St. Michael’s College, Toronto. https://hdl.handle.net/1807/43412
Aguiar Cedeño, Jorge Dayán y Secundino Aldama. 2023. La cultura afrocubana en Cuba, una mirada desde el siglo XXI: testimonios en entrevistas y vivencias religiosas. La Habana: Editorial Universitaria.
Baer, Hans A. 2005. “Trends in Religious Healing and the Integration of Biomedicine and Complementary and Alternative Medicine in the United States and Around the Globe: A Review”. Medical Anthropology Quarterly 19: 437-442. https://doi.org/10.1525/maq.2005.19.4.437
Barnet, Miguel. 1995. Cultos afrocubanos. La regla de ocha. La regla de palo monte. La Habana: Ediciones Unión.
Bartra, Roger. 2019. Chamanes y robots. Reflexiones sobre el efecto placebo y la conciencia artificial. Ciudad de México: Anagrama.
Carneiro, Janderson Bax y Sônia Maria Giacomini. “‘Ninguém vem ao mundo a passeio’: notas sobre sacerdócio feminino, cura e cuidado em terreiros de ‘umbanda traçada’”. Revista de Antropologia da UFSCar 12 (1): 280-302. https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.340
Castro Ramírez, Luis Carlos. 2022. “Habitar mundos humanos-no-humanos en el complejo santería-ifá: relacionamientos medioambientales y flujos diaspóricos Colombia-Cuba-México”. Naturaleza y Sociedad. Desafíos Medioambientales 3: 112-155. https://doi.org/10.53010/nys3.06
Castro Ramírez, Luis Carlos. 2008. “Tecnologías terapéuticas: sistemas de interpretación en la regla de ocha y el espiritismo bogotano”. Antípoda. Revista de Antropología y Arqueología 6: 133-152. https://doi.org/10.7440/antipoda6.2008.07
Caynas Rojas, Seriad y Roberto E. Mercadillo. 2024. “Cognición extendida y símbolos de la velada mazateca con hongos psilocibios”. Andamios, Revista de Investigación Social 21 (54): 179-210. https://doi.org/10.29092/uacm.v21i54.1063
Da Silveira, Emerson José Sena e Izabela Matos Floriano Mendonça. 2014. “Novas tecnologias terapêutico-religiosas: notas sobre a apometria como técnica e campo de expressões religiosas híbridas”. Caminhos - Revista de Ciências da Religião 12 (1): 22-38. https://doi.org/10.18224/cam.v12i1.3026
Díaz, José Carlos. 2018. Las plantas de la santería y la regla de palo monte. Usos y propiedades. Ciudad de Panamá: Ediciones Aurelia.
Dow, James. 1986. “Universal Aspects of Symbolic Healing: A Theoretical Synthesis”. American Anthropologist 88 (1): 56-69. https://doi.org/10.1525/aa.1986.88.1.02a00040
Flores, Maria Ximena. 2021 “‘El toé te cura bonito’: modos femeninos de dar salud en el pueblo awajún (Amazonía peruana)”. Cadernos de Campo 30 (2): 1-16. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v30i2pe193520
Frank, Jerome y Julia Frank. 1993. Persuasion and Healing: A Comparative Study of Psychotherapy. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
Guber, Rosana. 2011. La etnografía. Método, campo y reflexividad. Buenos Aires: Siglo XXI.
Herrera Rodríguez, Tatiana. 2021. “Encuentros entre la antropología médica y la perspectiva de género en Latinoamérica, 2009-2019”. Maguaré 35 (1): 87-126. https://doi.org/10.15446/mag.v35n1.96665
Hinton, Devon y Laurence Kirmayer. 2017. “The Flexibility Hypothesis of Healing”. Culture, Medicine, and Psychiatry 41: 3-34. https://doi.org/10.1007/s11013-016-9493-8
Holbraad, Martin. 2021. “The House of Spirits. Care and the Revolutionary State in Cuba”. The Cambridge Journal of Anthropology 39 (2): 112-127. https://doi.org/10.3167/cja.2021.390208
Kirmayer, Laurence. 2004. “The Cultural Diversity of Healing: Meaning, Metaphor and Mechanism”. British Medical Bulletin 69 (1): 33-48. https://doi.org/10.1093/bmb/ldh006
Kirmayer, Laurence. 1993. “Healing and the Inventing of Metaphor: The Effectiveness of Symbols Revisited”. Culture, Medicine and Psychiatry 17: 161-195. https://doi.org/10.1007/BF01379325
Kohrt, Brandon, Katherine Ottman, Catherine Panter-Brick, Melvin Konner y Vikrmam Patel. 2020. “Why We Heal: The Evolution of Psychological Healing and Implications for Global Mental Health”. Clinical Psychology Review 17: 161-195. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2020.101920
Lele, Ócha’ni. 2003. The Diloggún: The Orishas, Proverbs, Sacrifices, and Prohibitions of Cuban Santería. Rochester; Vermont: Destiny Books.
Lele, Ócha’ni. 2001. Obí. Oráculo de santería cubana. Madrid: Arkano Books.
Lévi-Strauss, Claude. 1949. “L’efficacité symbolique”. Revue de l’Histoire des Religions 135 (1): 5-27. https://doi.org/10.3406/rhr.1949.5632
Matibag, Eugenio. 1996. Afro-Cuban Religious Experience. Cultural Reflections in Narrative. Gainesville: University Press of Florida.
Orozco, Maria y Shana Harris. 2022. “Psilocybin and the Meaning Response: Exploring the Healing Process in a Retreat Setting in Jamaica”. Anthropology of Consciousness 34 (1): 130-160. https://doi.org/10.1111/anoc.12162
Parra-Valencia, Liliana. 2023. “Mujeres y artes: fuerza espiritual y sabiduría ancestral africana”. Boletim Do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas 18 (2): 1-18. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2023-0008
Peixoto, Norberto. 2018. As flores de Obaluaê: o poder curativo dos orixás. Porto Alegre: Besouro Box.
Queiroz, Víctor. 2021. “Quando o ser humano cria, ikú vem à terra: as mediações de exu, a onipresença da morte e a covid-19 em dois contextos afrorreligiosos”. Estudos Históricos 34 (73): 299-319. https://doi.org/10.1590/S2178-149420210205
Ramos Camejo, Yeney y Silfredo Rodríguez Basso. 2022. “Ikofáfun: el óvulo que viene del infinito”. Disparidades. Revista de Antropología 77 (2): e029. https://doi.org/10.3989/dra.2022.029
Reyes, Andres. 2004. “Illness and the Rule of Ocha in Cuban Santería”. Transforming Anthropology 12 (1-2): 75-79. https://doi.org/10.1525/tran.2004.12.1-2.75
Rivera López, Angélica María. 2023. “El paso de mi paso: una etnografía sobre el despertar de la fertilidad en la religión regla ocha-ifá”. Tesis de maestría, Faculdade de Ciências Sociais Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
Saad, Marcelo. 2020. Terapias espirituais: rumo à integração ao tratamento convencional. São Paulo: AME-Brasil Editora.
Strathern, Marilyn. 2014. O efeito etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify.
Valente, Tania Cristina de Oliveira, Davi James Dias y Stelio Alessandro Marras. 2019. “Curas e terapêuticas espirituais no Brasil: revisão crítica e algumas reflexões”. Interface - Comunicação, Saúde, Educação 23: 2-16. https://doi.org/10.1590/Interface.180132
Verger, Pierre. 1992. Artigos. Esplendor e decadência do culto de Ìyàmi Òsòròngà “minha mãe a feiticeira” entre os Iorubas. Tomo 1. Salvador de Bahía: Corrupio.
Wedel, Johan. 2004. Santería Healing: A Journey into the Afro-Cuban World of Divinities, Spirits, and Sorcery. Gainesville: University Press of Florida.